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Robôs: as vozes invisíveis de Bolsonaro

Após a manifestação bolsonarista, ocorrida em 15 de março pelo país, o núcleo de etnografia urbana da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), juntamente com o Laboratório da Microssociologia e Estudos de Redes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) fizeram um estudo conjunto sobre as redes sociais e os assuntos comentados no Twitter em apoio ao governo Bolsonaro.

O resultado apresentado pela pesquisa aponta que a hashtag (uma forma de marcar um assunto usando jogo da velha e sem espaço entre palavras) #bolsonaroday, que ficou entre os assuntos mais comentados na rede social mundial, fora impulsionada em 55% por bots (robôs de internet que fazem uma ação definida por computador) ou outros tipos perfis computadorizados. A hashtag foi mencionada 1,5 milhões de vezes e mais da metade dessas foi postada por um robô. Desde a campanha eleitoral, a equipe bolsonarista aposta em uma grande estratégia de redes sociais para manipular a opinião pública. Em outros momentos fundamentais da atual política internacional, a extrema-direita também adotou esse tipo de estratégia, como, por exemplo, nas eleições americanas em que Donald Trump foi eleito ou na campanha pela saída da Grã-Bretanha da União Europeia.

A forma com que os assuntos na internet atingem as pessoas é ainda muito nova e o peso disso na opinião pública é grande, apesar de ainda pouco estudados. Pessoas informadas sobre o tema são capazes de perceber imagens de publicações em que a inteligência artificial falha e os robôs mandam mensagens que não fazem sentido, geralmente envolvendo temas políticos ou sobre a atual pandemia. Porém, para um número elevado de internautas, as manipulações passam despercebidas e as informações falsas ou tendenciosas ganham repercussão rápida. Caso 30, 40 perfis falsos postem uma notícia falsa (fake News), ela pode se espalhar muito rapidamente. A partir daí, uma multidão acreditará, por exemplo, que as autoridades regionais estão registrando mortes que não foram causadas pelo Coronavírus como mortes causadas pela doença. De acordo com o estudo, essa tática diversionista, utilizada pelo governo Bolsonaro envolve em torno de 16 mil perfis falsos e causa grande impacto no acesso popular à informação.

A rede de robôs é uma das ferramentas que fazem parte das estratégias adotadas por diversos líderes da extrema direita pelo mundo. A primeira delas é chamada campanha permanente, em que líderes políticos adotam estratégia de campanha eleitoral durante todo o seu mandato, controlando a retórica jornalística. As mensagens são caracterizadas, em geral, por formas viscerais de informações enganosas a fim de provocar reações emotivas dos receptores e debates “raivosos” sobre temas específicos, como o coronavírus, por exemplo.

Outra estratégia é a utilização de postagens de publicações com objetivos de medir a sua eficácia política dos discursos, ou seja, se haverá uma resposta efetiva da oposição. Segundo o estudo, tal estratégia foi adotada “antes do pronunciamento do presidente, quando grupos bolsonaristas disseminaram na internet vídeos de empresários brasileiros contestando as medidas de isolamento da Covid-19.” Assim, quando Bolsonaro faz seus discursos, os analistas que controlam os bots já possuem uma medida da reação das pessoas dada pelas mensagens anteriores e, com isso, impulsionam segmentos da fala nas redes sociais, de maneira que os assuntos que interessam à política do governo acabem sendo a pauta do dia. Dessa forma, conseguem se manter um passo à frente da informação.

Na sociedade de classes, os meios de comunicação de massas são controlados pelo poder econômico da classe dominante. As redes sociais, apesar de sua aparência democrática, não se diferenciam e, a cada dia, se consolidam como mais uma arma poderosa para o controle e manipulação não só das informações, como também da vida das pessoas. Porém, assim como toda a tecnologia criada pela burguesia ao longo da história, as redes sociais podem ser apropriadas pelos trabalhadores em nome dos seus interesses classistas. A agitação e propaganda revolucionárias sempre tiveram na imprensa operária sua maior aliada. A organização e a determinação militante oriunda da crescente conscientização classista da vanguarda operária é o recurso fundamental que determinará a correlação de forças entre esquerda e direita no uso das redes sociais e de todos os outros recursos tecnológicos que devem estar a serviço da emancipação dos trabalhadores.


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