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Crise: negócio para a burguesia, morte e escravidão para os trabalhadores

Não é difícil imaginar a diferença entre os efeitos de uma crise para quem possui um patrimônio estimado em US$22,7 bilhões e para quem vai receber uma renda emergencial de R$600 para sobreviver no período da pandemia. O dono do patrimônio bilionário é Jorge Paulo Lemann, segundo homem mais rico do Brasil e o 35º do mundo, de acordo com ranking da revista Forbes, de 2019.  Já os beneficiários do auxílio de R$600, são, por enquanto, 20 milhões de trabalhadores e trabalhadoras informais, que conseguiram se inscrever no site da Caixa ou no aplicativo criado pelo governo federal.

Diferente dos trabalhadores afetados pelo desemprego e pela insegurança financeira, Lemann, um dos sócios do fundo 3G – que controla gigantes como AB InBev, Kraft Heinz e Burger King – mostra-se otimista.  Em um evento online promovido pelo Fórum da Liberdade, o investidor disse que fez seus melhores negócios em momentos de crise.  O Fórum da Liberdade é uma conferência sobre economia e política, realizada anualmente pelo Instituto de Estudos Empresariais, desde 1988. Dirigindo-se a uma plateia de empresários, o bilionário conta que sempre soube tirar proveito das crises. Ou seja, enquanto milhares de pequenos empresários vão à falência e milhões de trabalhadores vão à pobreza e à fome, os grandes especuladores financeiros encontram meios de garantir e ampliar suas taxas de lucros.

Não será diferente neste momento da maior instabilidade econômica mundial desde a segunda guerra. A voracidade com que a burguesia atacará os trabalhadores para garantir seus lucros terá a mesma proporção da crise.

Foi nesse sentido que, Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central e neto do liberal Roberto Campos – ministro do Planejamento da ditadura militar, conhecido como Bob Fields pela oposição ao regime devido ao seu atrelamento ao imperialismo estadunidense, propôs uma “restrição parcial de circulação de pessoas” durante a pandemia da Covid-19.  A tese de Campos Neto foi apresentada durante uma live organizada pela XP Investimentos, uma das maiores corretoras de valores do Brasil e acompanhada ao vivo por mais de 6 mil pessoas, no início de abril. Para uma plateia, formada por investidores do mercado financeiro, o economista afirmou que quanto mais rápido vierem novos casos e mortes por covid-19, melhor para a economia.  

Como é prática comum de toda a equipe do governo Bolsonaro, Campos Neto distorceu informações retiradas de um estudo de pesquisadores europeus para justificar uma proposta inócua de isolamento, ignorando todos os alertas sobre o impacto social que o colapso do sistema hospitalar e a quantidade de mortos no País poderá gerar. De acordo com matéria publicada no site The Intercept Brasil, Campos utilizou um gráfico retirado de um estudo realizado pelos economistas Richard Baldwin e Beatrice di Mauro, do Centro de Pesquisas de Política Econômica, que reúne mais de 700 pesquisadores de universidades majoritariamente europeias. Os pesquisadores concluem que a recessão causada pela quarentena é uma “medida de saúde pública necessária” e que perder vidas para preservar a economia não deve sequer ser uma opção considerada pelos líderes mundiais.

A conclusão do estudo é completamente ignorada pelo diretor do BC em sua conversa com os representantes do mercado financeiro. Como um bom bolsonarista, Campos faz a leitura do gráfico apenas para mostrar que quanto mais elevada for a curva do coronavírus, mais rápido será o fim da pandemia e, consequentemente, mais rápida será a recuperação da economia.  Sua conclusão é a solução brasileira e simples para um problema que afeta o mundo: deixar as pessoas morrerem para rapidamente recuperar a economia. Uma solução que se assemelha a adotada pelo pai do Bolsonarismo, o presidente Trump dos EUA, país que contabilizou até 18/4, mais de 36 mil mortos, 4491 mortes em 24horas.  

Em primeiro lugar, é preciso considerar que a política bolsonarista é baseada integralmente em falácias e distorções da realidade. Mesmo que fosse socialmente aceita a tática de deixar a população morrer sem nenhuma medida de proteção, dela não resultaria a recuperação de uma economia que já vinha em queda livre. A crise sem precedentes do sistema capitalista foi agravada pela pandemia, mas não é fruto dela. A previsão, desde 2018, já era de estagnação econômica para o próximo período. A China, segunda economia do mundo, registrou, pela primeira vez desde 1992, queda em seu PIB. O índice superou as expectativas, ficando 6,8% menor no primeiro trimestre deste ano.  E não será diferente nos Estados Unidos, ou seja, uma crise mundial da qual o Brasil não tem a mínima possibilidade de se proteger.

Em segundo lugar, os economistas a serviço da grande burguesia parecem se esquecer que a classe trabalhadora, a única capaz de produzir riqueza, não está disposta a morrer para salvar os lucros de parasitas sanguessugas. A aproximação do colapso hospitalar e a constatação de que nada está sendo feito para se evitar a contaminação e a morte massiva dos brasileiros vai desmascarar a farsa do discurso bolsonarista de proteção da economia, uma vez que nenhuma economia consegue se fortalecer sobre uma hecatombe.

Bolsonaro é o serviçal do imperialismo estadunidense cujos planos para o Brasil é esfolar até a morte os trabalhadores para atender aos interesses dos grandes monopólios capitalistas. Prova disso é que a pandemia está sendo utilizada pelo governo para intensificar os ataques aos trabalhadores. A quarentena tem sido precária pois, desamparada pelo governo, a maioria da população é obrigada a trabalhar e milhões nas periferias não possuem condições de se isolar. No entanto, ela serviu para acelerar a aprovação de medidas que retiram direitos dos trabalhadores, sem que houvesse reação, uma vez que as organizações de luta também abandonaram as massas.

É fundamental que as organizações operárias e os movimentos sociais organizem a luta real das massas para barrar a política genocida do afrouxamento do isolamento social. Os trabalhadores devem exigir o direito à quarentena para todos, com proteção financeira garantida pelo estado e decretar uma Greve Geral caso sejam obrigados a morrer em nome dos lucros da burguesia. Que paguem pela crise aqueles que a criaram, porque eles perderão apenas dinheiro. O povo perderá a vida.


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