• Entrar
logo

O petróleo de volta ao fundo da terra

V. Serge

Na última segunda-feira, dia 20 de abril, em meio à crise do novo coronavírus (Covid-19), a economia mundial, novamente, “tremeu nas bases”. Nos últimos meses, desde que a China reduziu drasticamente sua produção buscando conter o vírus, especuladores de toda espécie tentaram se aproveitar da fraqueza, aparentemente temporária, da economia mundial. A expectativa era de que comprando ações e commodities agora, teriam futuros lucros fabulosos, extraídos quando outros “trouxas” não teriam a mesma coragem de investir.

Se meses atrás esse era o cenário, agora a questão parece ter mudado de tom. Em meio à propagação extraordinária do novo coronavírus e a subsequente declaração de quarentena em quase todos os países do mundo, tornou-se difícil dizer que esta é só mais uma crise do capitalismo, cíclica, mas em última instância passageira. Desastre! Por todos os lados medidas que neste mundo neoliberal tinham peso de tabu foram rapidamente aprovadas em parlamentos de todo o mundo. Dinheiro distribuído; moratória em dívidas e hipotecas; proibição de evicções e despejos etc. Quantas vezes nos foi dito que tudo isso era caro demais, impossível de sustentar? Quantas vezes nos foi dito que dinheiro só pode ser recebido em troca da venda de sua força de trabalho (ou de uma hipócrita herança)? Quantas milhares, milhões, inimagináveis vezes se justificou os atos mais terríveis em nome de um suposto “senso comum” que em breves instantes ruiu de forma espetacular e catastrófica?

Na segunda-feira, dia 20 de abril de 2020, repito, a economia mundial “tremeu nas bases”. Seu mais sacrossanto ícone, o barril de petróleo, não só chegou a não valer nada, como seu preço tornou-se negativo. Ah! Quantos mortos no Iraque, na Venezuela e no Irã, tudo isso para que agora o famoso “ouro negro” valha menos que nada! Que momento estamos em que especuladores têm de pagar indivíduos para que tirem de suas mãos esses barris de sangue perdido, pois com a economia parada ninguém precisa deles, e é mais caro guardá-los do que despejá-los. Quantas esperanças de lucros fáceis, compradas na forma de “futuros” – contratos de entrega de uma determinada mercadoria (geralmente commodities em estado mais bruto, como grãos ou metais) – agora jazem não somente em cacos no chão, mas abaixo dele, de onde nunca deveriam ter saído. O valor do petróleo cruzou a horizontal do gráfico e retornou à terra, de onde jamais deveria ter sido tirada. E, em meio a ruína dos barões, ressurgem da terra as possibilidades para a luta, agora em meio a maior crise dos últimos – e talvez de todos – os tempos.

 


Topo