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Ressaca colonial continua destruindo a África

Nas últimas semanas, dois médicos franceses deram uma declaração, ao vivo, em uma das principais redes de televisão da França, dizendo que a África deveria ser o palco para o estudo da cura do novo coronavírus. O diretor do INSERM (organização pública francesa exclusivamente dedicada às pesquisas biológicas), Camille Locht, e um dos diretores do hospital Cochin de Paris, Jean Paul Mira, justificaram o posicionamento afirmando que a África seria o melhor lugar porque "não há máscaras, nem tratamentos, nem aparelhos de reanimação cardiorrespiratória".  Os médicos ainda usaram como exemplo um estudo que é feito com pessoas soropositivas no Continente:  "No caso da AIDS, onde prostitutas africanas são usadas para tentar certas coisas porque sabem que estão muito expostas e não têm proteção", disse Jean.

As declarações absurdas e racistas geraram reações de diversos setores sociais. A fúria em muitos habitantes da região foi quase que imediata, assim como o medo de uma intervenção no Continente e da disseminação do vírus. A construção de centros de triagem do COVID-19 próximo a áreas residências já foi, inclusive, motivo de protestos, onde manifestantes chegaram a destruir um centro de pesquisa, na capital da Costa do Marfim, que estava sendo construído no distrito de Yopougon.

O craque de futebol de origem africana, Didier Drogba, publicou em suas redes sociais, no último dia 2 de abril: “É totalmente inconcebível que continuemos advertindo isso. A África não é um laboratório de testes. Gostaria de denunciar vivamente aquelas palavras humilhantes, falsas e, acima de tudo, profundamente racistas. Ajudar a salvar a África com o atual Covid-19 em andamento e a achatar a curva”.  

O Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, também se pronunciou diante das declarações: “A África não pode e não será o campo de testes de qualquer vacina. A ressaca dessa mentalidade colonial tem que parar”.

As falas revelam todo o discurso genocida da burguesia contra os negros, vistos como “seres inferiores”, mercadorias, cuja única função é servir aos interesses dos “senhores” (ler-se: homens brancos, ricos). Não é de hoje que a África vem enfrentando surtos epidêmicos. AIDS, ebola, febre amarela, malária etc. são alguns exemplos de doenças que assolam o continente, que é extremamente castigado pelo sistema capitalista. Epidemias, fome, exército de reserva de trabalhadores... Estas são ferramentas que o capitalismo utiliza para determinar suas regras de exploração nos países subdesenvolvidos.  A “ressaca colonial”, citada por Tedros, é, na verdade, a “ponta do iceberg” de políticas neocoloniais que continuam a explorar o continente africano, na tentativa de se aproveitar de todo o desgaste e escassez na região, impulsionada pelo próprio sistema capitalista.

Neste momento, o capitalismo vê com preocupação suas bases burguesas sendo contaminadas. A pandemia do novo coronavírus intensificou de forma assustadora a crise econômica que já vinha se arrastando desde 2008. A tendência, como sempre ocorreu na história do sistema, será se utilizar da massa de trabalhadores, concentrados nos países subdesenvolvidos, para tentar “dar fôlego” à economia. Sem sombra de dúvidas, se preciso for, os donos dos meios de produção não pensarão duas vezes em promover o massacre e genocídio dos africanos e das populações dos países pobres e em desenvolvimento, fazendo testes em humanos, numa busca pela “cura” de doenças como o COVID-19.

O crescimento no número de contaminados por todo mundo, não deixa dúvidas quanto ao racismo, a negligencia e a prepotência dos capitalistas com as classes mais pobres. Para os grandes burgueses os trabalhadores podem morrer, ser usados como “cobaias”, desde que suas benesses e desejos egocêntricos continuem sendo atendidos.

A África ainda é tratada como periferia do mundo para cumprir a missão de fornecer corpos negros para experimentos com o objetivo de salvar os que detêm a moeda, mesmo que isso mate milhares de pessoas. Afinal, o capitalista não se importa com vidas, desde que seus lucros esteja a salvo.

 


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