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EUA: milhões de americanos dependem de doações para comer durante a pandemia

A maior potência econômica mundial possui milhares de cidadãos passando dificuldades. É o que as organizações responsáveis pela distribuição gratuita de alimentos às pessoas necessitadas têm relatado sobre os efeitos da crise do novo coronavírus nos Estados Unidos.

A Feeding America, maior organização de caridade de combate à fome no País, estima que pelo menos 17,1 milhões de pessoas passarão a enfrentar “insegurança alimentar” nos EUA, nos próximos meses, o que representa um aumento de 46%. Mesmo antes da pandemia, cerca de 37 milhões de americanos já enfrentavam essa situação, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Em levantamento divulgado pelo instituto de pesquisa do Siena College, 77% das pessoas consultadas na cidade de Nova York, principal epicentro da COVID-19, estão preocupadas com a possibilidade de enfrentar graves problemas financeiros, enquanto 41% revelaram temor em não poder arcar com custos de alimentação. Muitos não têm dinheiro poupado. Segundo estudo divulgado no ano passado pela Federal Reserv (Fed), o banco central americano, 27% dos adultos no país precisariam pedir dinheiro emprestado ou vender algo caso tivessem uma despesa inesperada de 400 dólares (cerca de R$ 2,1 mil). Outros 12% não teriam nenhuma maneira de desembolsar o valor.

Confirmando esta situação desesperadora, 22 milhões de americanos entraram com pedido de seguro desemprego nas últimas quatro semanas, segundo dados divulgados pelo Departamento do Trabalho dos Estados Unidos – um volume não visto desde a Grande Depressão dos anos 1930.

A Feeding America também diz ter um aumento de 98% na demanda dos 200 bancos de alimento em sua rede, desde março deste ano. Esses bancos são organizações sem fins lucrativos e recebem doações de comida atuando como “depósitos” e grandes centros de distribuição. "Nunca vi um aumento tão dramático na necessidade (de comida), e estou nesse setor há quase 25 anos", disse a presidenta e CEO do Greater Pittsburgh Community Food Bank, banco de alimentos no Estado da Pensilvânia, Lisa Scales.

Scales também relata que mesmo em comparação ao atentado de 11 de setembro de 2001, e o furacão Katrina, o momento atual não há precedentes.  A necessidade é tremenda. Muitas pessoas buscam auxílios pela primeira vez na vida, "Nunca imaginaram que um dia estariam em uma fila para assistência alimentar."

Os bancos de alimentos que já atendiam a população vulnerável ampliaram sua distribuição, mas temem não conseguir mantê-la devido ao grande aumento na demanda.

As mesmas cenas se repetem por todo o país, de New Orleans a Detroit, passando por Nova York, onde o governo já oferece alimentação gratuita em vários pontos da cidade, o que se veem são imagens de uma população desesperada formada, no geral, pelos que perderam emprego, não têm renda e aguardam o pagamento que lhes será concedido pelo governo federal, por meio de um plano de apoio à economia, aprovado em março. Existe ainda a situação de milhões de imigrantes sem documentação que não receberão auxílio.

 

Queda nas doações

 

300 milhões de pessoas vivem nos 42 Estados que recomendam ficar em casa para reduzir o risco de contágio pelo novo coronavírus. Até a última sexta-feira (17) os Estados Unidos registraram mais de 690 mil casos de covid-19, a doença causada pelo patógeno, com mais de 35 mil mortes.

Muitas famílias, que já tem o orçamento apertado, com as crianças em casa por causa do fechamento das escolas, não têm condições de arcar com as refeições extras que os filhos costumavam receber como café da manhã e o almoço servidos nas escolas públicas.  

Com muitos americanos estocando grandes quantidades de alimento por medo de uma possível escassez, os supermercados enfrentam falta de alguns produtos, o que reduz o número de doações. A situação piora pelo fato de importantes fontes de doações, como restaurantes e hotéis, estarem fechados. Assim, os bancos de alimento têm sido obrigados a comprar mais produtos, competindo com os supermercados. A grande procura também leva a maior demora na entrega. Em março deste ano, foram gastos 675 mil dólares (cerca de R$ 3,5 milhões) na compra de comida, o orçamento normal para o mês seria de 73 mil dólares (cerca de R$ 383 mil).

Além disso, os bancos enfrentam problemas de logística que dificultam o recebimento de doações, pois muitos agricultores estão destruindo o excesso de produção, devido ao cancelamento de compras de grandes volumes por clientes comerciais. Eles afirmam que não há como redirecionar produtos perecíveis aos bancos de alimentos em tempo hábil para consumo.

 

Voluntários Idosos

 

Para piorar a situação, a maior parte da força de trabalho voluntária nos bancos de alimentos é composta por idosos que, considerados grupo de risco, e, portanto, foram suspensos das atividades.

O Greater Pittsburgh Community Food Bank, por exemplo, suspendeu o trabalho dos cerca de 300 voluntários e funcionários que atuavam no depósito principal da entidade, há duas semanas, e conta com apoio da Guarda Nacional em substituição aos voluntários.

Esta é a real situação da principal economia do mundo capitalista: falta de alimentos para uma população gigantesca de desempregados e trabalhadores informais. E é este o exato modelo que Bolsonaro e Paulo Guedes estão importando para o Brasil, como capachos do imperialismo estadunidense. Os trabalhadores norte-americanos vêm ampliando sua consciência de classe conforme a crise econômica, iniciada em 2008, foi-lhes empurrando para a pobreza. Movimentos como Occupy Wall Street revelaram a exigência de mudanças no sistema. Com o aprofundamento dramático da crise, a tendência é de uma revolta generalizada entre os setores mais afetados pela desigualdade social, os negros, imigrantes e seus descendentes. Para os trabalhadores brasileiros, a situação será ainda pior, pois, como potência imperialista, a política dos EUA para o Brasil será de impor regras para a superexploração do trabalho, em favor das corporações transnacionais e de avanço sobre as riquezas nacionais.

 


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