Os últimos dados da pesquisa realizada pelo Observatório de Discriminação Racial no Futebol, publicados no dia 13 de abril deste ano, revelou um aumento de 70% nas ocorrências discriminatórias nos estádios entre 2018 e 2019. Enquanto foram registrados 88 casos em 2018, em 2019 esse número pulou para 150 registros. Entre as “ocorrências” estão incluídas racismo, machismo e homofobia.
O aumento da discriminação nos estádios de futebol vem acompanhado de outro dado muito importante: o aumento da elitização nas arenas. Assim, para analisar o aumento da discriminação é preciso observar quem de fato tem ido aos estádios nos últimos anos. A elitização do esporte, materializado principalmente pelo aumento do preço dos ingressos e jogadas de marketing, como o desenvolvimento de programas para que torcedores possam pagar mensalidades para, posteriormente, poderem converter em acesso prioritário nas compras de bilhetes e descontos nas lojas oficiais dos clubes, tem mudado completamente o perfil das pessoas que frequentam as arenas. É inegável o crescente e desenfreado acúmulo de capital de empresários e jogadores que, para manter seus contratos e lucros, passam para os torcedores, em um efeito cascata, valores cada vez mais altos pelos ingressos. As áreas comuns, onde torcedores pagavam preços muito menores, foram abolidas. A antiga área chamada “geral” levou consigo os brasileiros que antigamente tinham acesso aos grandes jogos por preços populares. Os burgueses, que antes se separavam do torcedor pobre e marginalizado, agora, tomaram pra si toda a área comum, expulsando dos estádios os torcedores de “baixa renda”. O “padrão fifa” alijou das arenas os torcedores pertencentes às classes trabalhadoras.
Como não poderia ser diferente, a mudança do perfil dos torcedores também trouxe mudanças no “comportamento” nos estádios e escancarou, de uma vez por todas, o que pensa a elite. Não é coincidência que os casos de racismo aumentem justamente no momento em que os preços dos ingressos ficam mais caros. Como disse o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kallil, em entrevista ao Jornal El País, em julho de 2017: “futebol não é coisa para pobre!”. Mais uma vez está colocada a relação direta entre o debate de gênero, raça e classe.