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Exposição ao Coronavirus deixará indígenas em vulnerabilidade crítica

As populações mais vulneráveis, a exemplo dos povos indígenas, serão aquelas que mais serão impactadas pelo avanço e descontrole da pandemia do novo coronavírus. O que se tem assistido por parte do Governo Federal, especialmente com as atitudes de Jair Bolsonaro, é apenas “lavar as mãos” em relação aos procedimentos necessários para a contenção das mortes decorrentes da contaminação pelo Covid-19. As tentativas de imposição aos estados para encerrar o isolamento social pode levar o País ao colapso total do sistema de saúde, dos necrotérios e cemitérios. Alguns estados, como o Amazonas, já anunciaram que o sistema está superlotado, sem vagas para atender os infectados pela Covid-19. 

Para a população indígena que se encontram em situação de maior vulnerabilidade, o fim do isolamento social, a falta de condições de se manter nas comunidades com condições básicas de sobrevivência pode representar uma condenação previa à morte. Isso porque, agravados pela sua condição de isolamento voluntário, o sistema imunológico dos povos indígenas está mais suscetível à doença 

Segunda a pesquisadora da Unicamp e ex-presidente da Funai, Marta Azevedo, em entrevista veiculada no portal de notícias G1, os povos indígenas são especialmente suscetíveis ao vírus porque as nações atuais foram contatadas, majoritariamente, no século 20 e tiveram pouco contato biológico com patógenos com os quais a população não-indígena já lidou. Se considerarmos que a o nível de letalidade do Covid-19 é alto em pessoas com alguma morbidade ou em idosos, a doença se torna ainda mais agressiva para os povos indígenas que têm, biologicamente, maior propensão às doenças respiratórias. Essa situação poderá gerar um verdadeiro genocídio de comunidades indígenas inteiras. 

Azevedo e outras quatro pesquisadoras realizaram um estudo que mede o nível de vulnerabilidade de cada nação indígena de acordo com as variáveis demográficas, como estrutura etária, divisão de gênero e média de moradores por domicílios, distâncias a serem percorridas para ter acesso a hospitais, assistência de emergência, dentre outros fatores culturais destas comunidades. O resultado do cruzamento destas informações aponta  que parte de povos indígenas se encontra em nível de vulnerabilidade crítica. 

O gerenciamento das epidemias junto aos povos indígenas é feito através de Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei). Ao todo, no Brasil, existem 34 Dsei, sendo que seis deles apresentam-se com alto grau de vulnerabilidade. Estes Distritos mais vulneráveis se encontram na região amazônica, exatamente onde a situação de acesso ao sistema de saúde está praticamente em colapso. Isto implica dizer que se  estas comunidades necessitarem de atendimento em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), a probabilidade de que venham a morrer é muito grande. 

Para se ter uma ideia do tamanho destas populações em risco, os dados do referido estudo da UNICAMP apontam que temos 81.621 indígenas divididos nestes seis distritos de maior vulnerabilidade. Destes, 19.099 estão no Alto Rio Negro, no Amazonas; 25.972 são dos povos Yanomami, em Roraima; 19.213 indígenas Xavante e 6.704 Xingu, no estado de Mato Grosso; 4.559 índios do Kaiapó e mais 6.074 no Rio Tapajós, ambos no estado do Pará. 

O que temos visto é quanto maior é a situação de vulnerabilidade social e econômica, maior será o número de mortes causadas pelo novo coronavírus. Faz-se necessário lutar para assegurar a proteção dos povos indígenas e evitar outro genocídio que possa ser causado pela expansão desenfreada do coronavírus nas suas comunidades
 


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