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Em meio à pandemia, polícia invade favela e mata 13 pessoas no Rio de Janeiro

A comunidade do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, testemunhou, no último dia 15 de maio, mais um massacre da população preta, pobre e favelada, com um saldo de 13 mortos e feridos. A ação policial, que ocorreu em meio à pandemia do novo coronavírus, contou com a presença da tropa mais letal do Rio, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), e de policiais da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme).

De acordo com os relatos dos moradores, a carnificina começou já nas primeiras horas do dia, com um intenso tiroteio. A comunidade foi “acordada” com a passagem de carros blindados da Polícia, os conhecidos “caveirões”, e explosões de granadas. Conforme as denúncias divulgadas no jornal Voz das Comunidades, os moradores relataram agressões policiais e o lançamento de uma granada em um beco, que destruiu parte de uma casa. Relatos de populares dão conta que, durante a operação, os policiais usaram máscaras que cobriam todo o rosto, além de não usarem placas de identificação. Abusando da autoridade, eles revistaram moradores e fizeram buscas por informações nos celulares, buscando ligações e mensagens em grupos de whatsapp relacionadas à ação policial.  

A crueldade foi tamanha que, conforme divulgado pelo portal de notícias G1, a Polícia se negou até mesmo a levar os corpos até a parte baixa da comunidade, deixando para a população local a “tarefa” de transportar os mortos. 

O extermínio da população trabalhadora nas favelas e comunidades carentes, por meio de operações policiais, é o modus operandi do Estado capitalista. A desculpa, como de praxe, é o suposto combate ao crime. Em função da cor da pele, do local de moradia e da posição social de “suspeitos”, essas pessoas passam rapidamente a condenados, com pena de morte executada, sem direito a qualquer defesa. Ao invés de ações de inteligência e prevenção, o que a Política reserva às pessoas pobres são tiro, bombas e torturas. Aqueles que não se enquadram na condição de “suspeitos”, a esmagadora maioria das vítimas, como foi o caso da menina Agatha, de oito anos, assassinato com um tiro nas costas ao voltar de um passeio com a mãe (e de tantas outras crianças, mulheres grávidas etc.), entram para as estatísticas como o “efeito colateral” – afinal, para este sistema de opressão, as vidas negras não importam, não passam de números insignificantes.

Em meio a tudo isso, evitar aglomerações para se proteger de um vírus letal parece “brincadeira de criança” quando a prioridade é se proteger dos tiros que são disparados contra as casas. “Como a gente não vai se aglomerar se quando está no meio do tiroteio, no meio da guerra, a gente precisa aglomerar todo mundo no cômodo mais seguro da casa para poder se esconder e se proteger?”, questiona a comunicadora e moradora do Complexo, Tiê Vasconcelos. E completa: “Tinha caveirões circulando pelo morro o tempo inteiro, muita munição, muita granada (...). Mais uma vez a favela sangrando, mais uma vez mães gritando pela perda dos filhos”.

A população periférica, marginalizada pelos governos, que já não tem acesso a recursos básicos de proteção durante a pandemia (água, luz, saneamento, produtos de higiene pessoal etc.), continua sofrendo com ações policiais, que promovem o extermínio quase que diário da população negra e periférica. Como se vê, ao invés de combater a pandemia, buscando reduzir ao máximo as mortes causadas pela doença, a política dos governos burgueses é se utilizar da crise sanitária para intensificar os ataques e o massacre dos trabalhadores. A cartilha do governo Bolsonaro, neste sentido, vem sendo muito bem cumprida pelo projeto de segurança pública genocida do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que dá “carta branca” para que a polícia mate sem se preocupar com as consequências. Também não é por acaso que o governo se encontra no centro de um escândalo de corrupção, envolvendo fraudes na compra de respiradores. Segundo o Ministério Público, os equipamentos foram adquiridos com superfaturamento de cerca de R$ 4,9 milhões.

Assegurar e proteger a vida da população pobre, preta e favela não é, nem nunca foi, o objetivo dos governos burgueses, algo que fica mais explícito agora, em tempos de pandemia. É preciso pressionar os governantes para que os moradores das periferias e favelas tenham garantidos o direito ao isolamento – que não sejam mortos nem pelo vírus, muito menos por tiros. É dever do Estado garantir ações como distribuição de cestas básicas, de produtos de limpeza e proteção individuais, que sejam enviados ambulâncias e médicos às favelas, e não camburões e policiais para massacrar aqueles que já são os primeiros atingidos com a crise. 
 


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