A China ainda é a segunda maior economia do mundo, atrás dos Estados Unidos. O fato de não possuir todos os minérios que precisa para atender a demanda de sua industrialização, a torna o principal parceiro comercial dos países exportadores de commodities. O país asiático é o maior importador de petróleo do mundo. Nos últimos anos, a China deixou de ser exportadora de produtos de má qualidade e passou a produzir alta tecnologia, através da indústria 4.0. A classe média consumidora evoluiu com o aumento dos salários médio e o país se tornou também um grande mercado consumidor.
Em janeiro deste ano, foi assinada a primeira fase do acordo bilateral, entre China e Estados Unidos por meio do qual o governo de Xi Jinping se comprometeu a aumentar as compras de bens e serviços dos EUA em US$ 200 bilhões em relação aos níveis de 2017. Porém, a pandemia da Covid-19 criou impasses comerciais ao reduzir a demanda por commodities. Uma pesquisa do Instituto Peterson de Economia Internacional mostra que, segundo o acordo, as importações chinesas em 2020 seriam de cerca de US$ 36,6 bilhões - ou aproximadamente US$ 9,1 bilhões no primeiro trimestre, mas elas foram de apenas US$ 5,1 bilhões no período. Ainda assim, de acordo com autoridades dos EUA, mesmo quando as compras em alguns setores ficaram aquém das expectativas durante a primeira fase do acordo comercial, a China aumentou significativamente as compras de produtos agrícolas dos Estados Unidos. As vendas de milho e carne suína dos EUA para a China aumentaram cerca de oito vezes e as vendas de algodão foram três vezes maiores do que no mesmo período de 2017. As exportações do maior componente das receitas agrícolas dos EUA, a soja, subiram cerca de um terço no mesmo período, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
O Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China afirmou que espera aumentar as importações de milho na safra 2020/21 devido aos baixos preços globais, enquanto as importações de soja tendem a aumentar parcialmente neste ano, em esforço para cumprir o acordo comercial. O Ministério também revisou para cima quantidade de algodão que se espera importar no ano encerrado em 30 de setembro. O Brasil também deve se beneficiar dessa projeção. Na semana passada, Pequim anunciou que agora os mirtilos e a cevada dos EUA também podem ser exportados para a China.
Brasil e China
Em 2009, a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil, participando de um grande número de negócios em território brasileiro, adquirindo empresas ou tornando-se acionista majoritária em segmentos de infraestrutura (sobretudo na geração e transmissão de energia e nas áreas portuária e ferroviária). Também se destaca a participação país no setor de óleo, gás e nos setores financeiro, de serviços e de inovação. Diversos bancos chineses atuam no Brasil, e o Banco do Brasil conta com agência em Xangai, desde maio de 2014.
As relações diplomáticas entre Brasil e China datam do século XIX, mas foi na década de 1990, momento em que ambos os países passavam por grandes mudanças econômicas, que houve a aproximação comercial. Os governos brasileiros da década de 90 buscaram uma maior liberalização comercial e maior integração com a economia mundial. Foi o período da criação do MERCOSUL e do Plano real que, ao deixar a moeda brasileira artificialmente pareada com o dólar fez com que as importações se tornassem mais baratas, frente a indústria brasileira.
Quando a demanda chinesa pelas commodities cresceu, nos anos 2000, o Brasil passou a ter um papel importante no comércio internacional e um grande crescimento econômico. Porém, sem conseguir acompanhar o desempenho das exportações de matérias primas, o País passou por um processo de desindustrialização que o fez perder mercados para a própria China.
Nos primeiros quatro meses de 2020, segundo dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior do Brasil, pertencente ao fórum do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa, criado em 2017, as exportações brasileiras para a China cresceram 11,3%, em comparação com igual período de 2019. Ainda de acordo com a Secretaria, a procura chinesa ajudou o Brasil a registar em abril recordes históricos de exportações de óxido de alumínio, minério de cobre, algodão, soja, petróleo e carne bovina e suína. O jornal Valor econômico anunciou que, somente em abril deste ano, as exportações brasileiras para China subiram 27,9%, pela média diária, em relação ao mesmo mês do ano anterior. Por outro lado, de acordo com dados do Indicador do Comércio Exterior (Icomex), divulgado em 14 de abril, pela Fundação Getulio Vargas (FGV), as exportações para os Estados Unidos caíram 13,5% no primeiro trimestre, 31,7% em abril.
A fragilidade de Trump
As relações entre China e Estados Unidos têm se deteriorado desde o começo da pandemia de Covid-19. Foram várias declarações do presidente Donald Trump acusando a China de ser a responsável pela propagação do vírus. No entanto, conforme a pandemia intensifica a crise econômica nos EUA que já somam 1,4 milhão de casos do novo coronavírus, com mais de 80 mil mortes, as compras agrícolas pela China são vitais para o país cuja taxa de desemprego pode chegar a 22% em 2020. As declarações conflitantes de Trump sobre o acordo econômico assinado em janeiro só fazem complicar sua situação política, nas vésperas das eleições presidenciais, previstas para novembro próximo.
O mesmo acontece com o Brasil, quando o protagonismo econômico da China obriga o presidente Jair Bolsonaro a ignorar seu posicionamento ideológico contra o governo de Xi Jinping e participar de fóruns e encontros bilaterais que garantam acordos comerciais de interesse dos grupos exportadores agrícolas brasileiros.
Não há dúvidas de que o poderio econômico e financeiro chinês, junto aos acordos militares com a Rússia, será a chave para a transformação da geopolítica no pós-pandemia.