A pandemia do novo coronavírus tem feito vítimas em todo o território nacional. Olhando valores absolutos, a quantidade de mortos e infectados do sudeste salta aos olhos – já passam de 74 mil o número de infectados, o que equivale a cerca de 42% dos casos totais registrados no País. Ocorre que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esta é a região mais populosa do Brasil, logo, pela lógica, espera-se um maior número de contágio e mortes. Entretanto, quando analisamos os dados proporcionalmente, a situação se modifica. De acordo com um balanço do Ministério da Saúde, divulgado no último dia 12 de maio, as regiões norte e nordeste somam mais de 50% dos casos contabilizados de Covid-19 no Brasil. Estas regiões totalizam 35,9% da população brasileira – 27,1% da região nordeste e 8,8% da região norte.
O balanço do Ministério indica que são 58,3 mil casos do novo coronavírus no nordeste, o que equivale a 32,8% do total registrado no País, enquanto que o norte totaliza 30,9 mil casos (17,4%). Sul soma 8,5 mil e o Centro-Oeste cinco mil. Com relação aos óbitos, o Amazonas, por exemplo, possui uma taxa de 37,6 óbitos para cada 100 mil habitantes, enquanto São Paulo, estado que concentra o maior número de casos e mortos, possui 11,7 óbitos para cada 100 mil habitantes. Segundo dados atualizados do Congresso Federal, dos dez estados que possuem maior número de casos confirmados, sete são do norte e nordeste.
Importante destacar que estes números não levam em conta a subnotificação, agravada principalmente pela falta de testes para o Covid-19. Mapear a real situação do País é imprescindível para se tirar uma política séria de enfrentamento a doença. Tal situação é agravada pelas atitudes criminosas do governo Bolsonaro, que desde o começo vem tentando minimizar os impactos e gravidade da pandemia, inclusive debochando das vítimas.
Não é de se estranhar que os estados do norte e nordeste sejam os mais atingidos pela pandemia. Ambas as regiões são as mais pobres do País. Segundo pesquisa IBGE, o trabalho informal nestas regiões alcançou, em 2019, os patamares de 59,2% e 56,3%, respectivamente. Estes dados mostram que grande parcela destas populações tem que se expor para conseguir o sustento de suas famílias. O pífio auxílio emergencial do governo, cuja segunda parcela começou a ser paga somente no dia 18 deste mês, é insuficiente para garantir a subsistência das famílias. Pior: o valor sequer contemplou todos os necessitados, o que, na prática, significa a impossibilidade destas pessoas de fazerem o necessário isolamento social.
No caso do nordeste, há ainda o agravante político: a região concentrou a maior rejeição a Bolsonaro, que, por sua vez, vem declarando uma verdadeira “guerra” contra os governadores. Antes da crise do novo coronavírus, o nordeste recebia menos investimentos do Governo Federal em relação à regiões como Sul e Sudeste. A título de exemplo, de acordo com dados do próprio Ministério da Cidadania, o nortdeste recebeu apenas 3% das novas concessões de bolsa família este ano, embora concentre 36,8% das famílias em situação de pobreza ou extrema-pobreza.
Fatores como estes são primordiais para se entender a ascensão do contágio e das mortes no norte e nordeste. Não há coincidência, mas o resultado de uma política pautada na miséria, adoecimento e morte dos trabalhadores, enquanto promove-se a transferência do dinheiro público às grandes corporações e bancos. Tanto é assim que o mesmo Governo Federal que deixa as regiões mais pobres do País amargando com a pandemia, é o que articula com o Congresso Nacional e o Senado o pagamento das dívidas dos grandes bancos por meio da compra dos chamados “títulos podres”. O dinheiro do povo, que deveria retornar para o povo por meio de obras e programas para assegurar melhores condições de vida e saúde está, mais uma vez, sendo utilizado para “engordar” os bolsos de uma casta de parasitas, mesmo que isto custe a morte de milhares de pessoas por falta de testes, leitos em hospitais, Equipamentos de Proteção Individual etc.
Os trabalhadores de todo o País deveriam ter suas condições de vida asseguradas pelo governo, ou seja, assegurar as condições para se fazer o isolamento social, o que significa garantir que as pessoas não irão morrer de fome, ficar sem água, luz, moradia etc.