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A farsa do EaD em São Paulo: 70% dos estudantes excluídos

A partir de informações voluntariamente fornecidas pelos professores, a Apeoesp, sindicato dos professores da rede estadual de São Paulo, tem realizado uma enquete eletrônica diária sobre a média de frequência dos estudantes nas atividades do Centro de Mídias, responsável pelo Ensino à Distância da Secretaria Estadual de Educação -SEDUC/SP. Na última sexta-feira, 29/5, a pesquisa apontou que apenas 28,8% dos estudantes frequentaram as atividades. Houve um aumento em relação ao início da enquete, no dia 21/5, mas a frequência ainda se mantém abaixo de 1/3 do total. Os dados variam de acordo com as regiões do estado, mas não há registros satisfatórios que possam legitimar as atividades remotas como período letivo regular. 

Uma pesquisa intitulada “Condições e dinâmica cotidiana e educativa na Região Metropolitana de Sorocaba/SP”, produzida pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) campus Sorocaba, estudou o afastamento social provocado pelo coronavírus. A pesquisa mostrou que 41,86% dos estudantes das escolas de educação básica (ensino fundamental e médio) das redes públicas e privadas daquela região metropolitana não estão aptos para o trabalho remoto por problemas estruturais e psicopedagógicos. A pesquisa foi realizada nos meses de abril e maio de 2020 e objetivou conhecer as condições cotidianas enfrentadas pelos alunos e alunas da educação básica das redes públicas e privadas da região, bem como indagar sobre o desenvolvimento de atividades escolares em casa, os limites e as possibilidades desse processo. O levantamento envolveu questionários sobre o perfil dos estudantes, condições de acesso à internet e condições e dinâmica da vida diária e do exercício das atividades escolares durante o afastamento social.

A investigação também levou à conclusão sobre a necessidade de se realizar outra de mesmo perfil, mas com os professores. A pesquisa mostrou que a maior parte dos estudantes que conseguem realizar as atividades escolares em casa conta com a ajuda de alguém. Segundo os pesquisadores, não há processo educativo escolar que prescinda de mediador e esse sujeito é o professor. Imprescindíveis à educação escolar, seja na modalidade presencial, seja à distância, os docentes estão enfrentando todo o tipo de pressão e dificuldade para tentarem garantir, mesmo sem a habilitação e formação para tanto, um mínimo de mediação pedagógica com qualidade, por intermédio das tecnologias digitais de informação e comunicação.  Uma situação que tende a aumentar o estresse e a opressão, principalmente entre as mulheres, maior parte da categoria, neste período de isolamento social. 

A SEDUC já demonstrou ciência da pouca adesão dos alunos e o secretário da pasta, Rossieli Soares, declarou que os ausentes não serão prejudicados nas avaliações bimestrais. As denúncias sobre a impossibilidade de implantação da educação mediada por tecnologia da forma acelerada e sem disponibilização de recursos tanto para professores quanto para alunos foram feitas à exaustão pelas entidades de classe, universidades, especialistas em Educação e até mesmo pela imprensa empresarial. Isso sem falar no debate sobre a importância fundamental da educação presencial e da escola na vida da maioria das crianças e jovens brasileiros.

Porém, ignorando os alertas dos especialistas, as manifestações contrárias dos docentes e a ausência da maioria dos alunos, a SEDUC finge manter a aparência de normalidade no calendário escolar e exige que professores avaliem os alunos e realizem Conselhos de Classe para o fechamento das notas do primeiro bimestre. Trata-se da maior fraude já ocorrida na história da educação pública paulista, cujos projetos de sucateamento, em nome da privatização, se aceleraram no governo de João Dória.

Na semana entre 1 e 5 de junho, será feito o planejamento do segundo bimestre e as aulas online no Centro de Mídias retornarão no dia 8. Segundo o secretário, o planejamento tem por objetivo organizar a forma para avançar no ano letivo com foco no engajamento do aluno.  Na verdade, a imposição do ensino à distância durante o período da pandemia da Covid-19 foi apresentada como “solução” para a volta à normalidade na educação escolar. Uma farsa que contraria, inclusive, a Constituição, uma vez que a Lei de Diretrizes e Base da Educação determina que, em situação de pandemia, as aulas sejam suspensas. 

Estudantes, pais e professores estão servindo de “cobaias” de grupos econômicos que veem na pandemia uma grande oportunidade para expandir seus negócios de Ensino à Distância. As parcerias firmadas com empresas privadas sem nenhuma transparência, garantem o acesso privilegiado de alguns grupos que se beneficiarão com a venda de suas plataformas digitais e com a obtenção de dados de milhares de professores e alunos.

Esse modelo de ensino remoto imposto durante a pandemia agride um dos fundamentos básicos da escola pública, que é a garantia de iguais condições de acesso. É preciso defender o direito à quarentena com segurança e tranquilidade a todos. É fundamental iniciar uma ampla campanha de denúncia e esclarecimento sobre a realidade desta situação de exclusão que deverá se manter no período pós-pandemia.  A classe trabalhadora conquistou o direito universal à educação pública e gratuita e precisará lutar para barrar os planos de desmonte da educação escolar, que significa proteção social às crianças e jovens. 
 


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