• Entrar
logo

Villa Azul: a quarentena como violência aos mais pobres

No dia 27 de maio, o bairro popular Villa Azul, localizado na periferia de Buenos Aires, tornou-se o primeiro local isolado pelas autoridades, sob a alegação de se impedir a propagação do vírus na Argentina. O bairro, um assentamento informal, que fica 17 Km ao sul da capital argentina, tem cerca de 3 mil habitantes, ruas estreitas e moradias muito precárias. Foram confirmados 84 casos de Covid-19 e outros 50 estão em avaliação. 

Por decisão do governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, cada via de acesso ao bairro foi cercada para impedir a entrada e saída de moradores pelos próximos 15 dias, cobrindo um perímetro de cerca de 12 hectares. As autoridades também alegam que o objetivo é impedir que o vírus atravesse a rodovia e entre na vizinha Villa Itatí, onde residem outras 16 mil pessoas. 

 

A vulnerabilidade na periferia

 

“Villas miséria” é o nome que os argentinos dão aos bairros equivalentes às favelas brasileiras. Situado entre as localidades de Avellaneda e Quilmes, o Villa Azul é um dos 1,8 mil bairros e assentamento vulneráveis, com escassez de serviços públicos, que abrigam mais de 3 milhões de pessoas nos arredores de Buenos Aires. Outras 350 mil pessoas vivem em vilarejos de emergência, dentro da capital argentina, em que, há 2 semanas, um prolongado corte de água desencadeou uma onda de contágios.

Entre a capital e a província de Buenos Aires se concentram 80% dos casos na Argentina. Responsável pela operação em Villa Azul, Sergio Berni ministro da segurança da província de  Buenos Aires, em entrevista ao El País no dia 27 de maio, afirmou que a intenção é conter o foco epidemiológico. As autoridades, no intuito de amenizar os impactos do isolamento da população periférica, dizem garantir a entrega de alimentos, remédios, produtos de limpeza e de higiene pessoal a todos os moradores, embora já tenham vindo à tona inúmeras denúncias de que não foram entregues estes materiais. 

No mundo todo, a pandemia evidencia o abandono e a opressão vividos pela população dos bairros periféricos, cujas falta de condições mínimas de saneamento básico, aglomeração populacional e imensa pobreza, tornam impraticável o isolamento social. Alberto Fernandez, presidente argentino, alertou que não há histórico de como tratar esses bairros, porque na Europa e Estado Unidos não há periferias como as que existem na Argentina e América Latina. 

Porém, a resposta dada pelo governador da província de Buenos Aires, Kicillof, um aliado de Fernandez, de prender as pessoas em casa, discriminando-as enquanto lhes são negadas condições adequadas de isolamento foi criticada até por membros do governo federal. Kicillof foi acusado de estar “criando guetos para pessoas pobres”. A direita macrista, que governa a capital argentina, por sua vez, se manifesta contra o fechamento das atividades econômicas, mas em favor do isolamento das “villas”. Na verdade, a pandemia da Covid-19 tem colocado no centro do debate o papel do estado na proteção da população e o questionamento sobre o poder de cercear as liberdades democráticas que afeta de maneira desigual as populações mais pobres. Disputas eleitorais têm interferido diretamente na tomada de decisões e mostram que governos burgueses são representantes dos interesses do capital e não do povo. O sistema capitalista não se importa em tratar milhões de pessoas como rebanhos para proteger uma elite minoritária, que possui condições econômicas de se proteger e se tratar. 


Topo