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Protestos nos Estados Unidos da América

Os EUA estão em chamas. O que começou com um protesto exigindo a devida condenação dos policiais que mataram o trabalhador negro George Floyd, rapidamente se transformou em um movimento massivo de contestação social. Mais de trinta anos de neoliberalismo desenfreado e expropriação da classe trabalhadora e das instituições públicas tornaram as massas proletárias dos EUA num imenso barril de pólvora, furiosas com sua posição a cada dia mais degradada e mais sem direitos. A crise econômica de 2008, que aniquilou as parcas posses do proletariado e com a qual os bancos e bilionários multiplicaram seus juros, fortaleceu uma “nova esquerda” no país, voltada às questões climáticas, identitárias e ao enfrentamento das desigualdades por meio da taxação de ricos e da universalização da saúde pública. 

Os discursos da esquerda liberal, embora não sejam antissistêmicos ou revolucionários, vira e mexe fazem explodir a revolta das massas americanas, que já não mais suportam a distopia que os EUA se tornaram. Em 2011 ocorreram as ocupações de Wall Street, e, devido a fraqueza organizativa das forças de esquerda, rapidamente foram derrotadas. Ainda assim, ano após ano, greves, ocupações e protestos continuaram acontecendo até que as contradições chegaram ao ápice após passarem por alguns momentos críticos. Primeiro: o fracasso das duas candidaturas de Bernie Sanders. Como um socialdemocrata moderado, as reformas propostas por Sanders e seu movimento tinham a intenção de estender a vida do capitalismo norte-americano, reduzindo as contradições e melhorando a existência de parte das massas destituídas. O reformismo democrata visa reduzir o ódio pelo sistema, mas, ainda que essas reformas fossem absolutamente limitadas, elas representavam um perigo para a burguesia estadunidense, que achou melhor fraudar as eleições presidenciais para evitar a vitória de Sanders. O resultado foi a chegada de um neofascista, Donald Trump, à Casa Branca. 

Segundo: os repetidos assassinatos, pelas forças policiais, de cidadãos negros, que, mesmo após décadas de lutas desde a abolição da escravidão, continuam sendo cidadãos de segunda categoria, sem o simples direito de ir e vir. Junto ao problema racial, a questão da imigração, gerou uma resposta xenófoba por parte dos apoiadores de Trump, com a transformação dos EUA em um Estado fascista, com direito a campos de concentração para imigrantes indesejados, colocados em gaiolas como animais de abate para serem deportados ou mesmo para morrer. 

Por fim, a crise do coronavírus. Com mais de cem mil mortes confirmadas devido a deliberada política de descaso do governo Trump em relação à vida da população, a pandemia se soma à maior crise econômica dos últimos 60 anos e cuja resposta do governo, previsivelmente, fora dar mais dinheiro público para os especuladores do mercado financeiro.

 

A questão racial como estopim da crise social

 

A cada assassinato de um cidadão negro, a revolta contra a opressão aumenta e toma conta das ruas. A cada injustiça cometida, a burguesia, em crise, arrisca incendiar todo o país ao prometer mais repressão. Mais uma vez, o povo está nas ruas furioso e, de maneira espontânea, abalando as estruturas capitalistas da maior potência do planeta. 

Em meio ao calor do momento, é impossível prever os próximos passos da revolta, pois o movimento não possui direção revolucionária. Mas uma coisa é certa: as decrépitas estruturas do capitalismo estão abaladas no centro do imperialismo contemporâneo. Se setores fundamentais da classe trabalhadora, capazes de parar a produção e colapsar o sistema, se unirem à juventude que está nas ruas revoltada, talvez o momento mereça uma das famosas frases de Mao Zedong: “Tudo debaixo dos céus está em caos – a situação é excelente!”


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