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Periferia sofre com avanço dos casos do novo coronavírus

Sem água e condições mínimas de saneamento básico, as periferias brasileiras seguem vulneráveis à disseminação do novo coronavírus. Um dos principais complicadores é o fato de a prevenção da doença depender, principalmente, da higienização das mãos e do distanciamento social, o que é impensável nas favelas e comunidades carentes, que seguem sem nenhum plano de governo que assegure a sobrevivência destas famílias.

Em entrevista ao portal de notícias G1, o professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Ricardo Lustosa, explicou que para entender a disseminação do vírus nas periferias seria necessário testar a população por amostras, o que daria uma ideia da quantidade de pessoas infectadas. Mas a falta de testes faz com que o combate ao Covid-19 se dê como “um tiro no escuro”. Com um único indicativo de casos, fornecido pelo Governo, falta uma noção exata da dispersão do vírus nas comunidades, explica Lustosa. 

O também professor da UFBA, no Departamento de Ciência e Computação, Marcos Ennes, avaliou não ser possível fazer estimativas para as periferias considerando o isolamento social. "Isso não vai existir nas comunidades. Isso eu acho que é praticamente impossível. O que tem se pensado fazer é considerar a densidade populacional e ter ideia de quantas pessoas moram ali. Se eu tiver uma pessoa infectada, ela vai infectar mais X", avalia.

A demógrafa, professora da Universidade de São Paulo, Suzana Pasternak, avalia que o enfrentamento nas periferias pode passar pela discussão de urbanização das favelas e citou o exemplo de se pensar em uma solução habitacional que inclua ventilação, iluminação etc. “Como abrir uma janela se é uma casa grudada na outra? Enquanto tiver gente amontoada, o vírus vai atacar”, avaliou a demógrafa.

 

População negra na linha de frente dos ataques

 

Conforme destacou Ricardo Lustosa, o teste massivo da população é essencial para se ter mais informações e conseguir realizar o enfrentamento adequado à doença. No caso de Salvador, onde o relevo é marcado por vales, doenças como dengue, chikungunya e leptospirose costumam se concentrar nos fundos desses vales, onde há mais esgotos e mosquitos – e é justamente nestas regiões onde mora a população mais pobre. Para o pesquisador, esta situação se repetirá no caso da Covid-19. Lustrosa também pressupõe que nestes locais de elevada aglomeração, se associarmos a baixa nutrição e o estresse vivido pelas famílias, há chances de aumento de contágio. 

As periferias são, sem dúvidas, os alvos de maior risco de contaminação e morte pela Covid-19. Dados da prefeitura de São Paulo do final de abril mostram que, nos bairros mais pobres da cidade, a chance de morrer por covid-19 é 10 vezes maior.  Em São Paulo, o recorte das mortes não é só socioeconômico, mas também racial. Conforme classificação do IBGE, pessoas que se auto identificam como pretas têm 62% mais chances de morrer pela doença do que as brancas. Não poderia ser diferente sendo o Brasil reconhecido como um dos países de mais desigualdade e grande dimensão dessa desigualdade é racial.

Como se percebe, a situação nas periferias e favelas brasileiras, em um cenário de pandemia, é extremamente grave. Somando a falta de políticas reais para o enfrentamento a pandemia, por parte principalmente do governo federal, e o verdadeiro genocídio perpetrado pelo Estado nas favelas e periferias brasileiras por meio de seu braço armado, a Polícia Militar, podemos inferir que a intenção de Bolsonaro é deixar a população trabalhadora, os mais pobres e vulneráveis morrerem sem nenhuma assistência. 


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