De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgados no último dia 30 de junho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar sofreu uma queda de cinco pontos percentuais no trimestre encerrado em maio, chegando a 49,5%. De acordo com a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, é a primeira vez na série histórica da pesquisa que o nível da ocupação ficou abaixo de 50%. Isso significa que menos da metade da população em idade de trabalhar está trabalhando.
O total de desempregados chega aos 12,7 milhões e, em relação ao trimestre anterior, são mais 368 mil pessoas à procura de trabalho. Beringuy ainda destaca que a redução inédita na pesquisa atinge principalmente os trabalhadores informais, que somam os profissionais sem carteira assinada (empregados do setor privado e trabalhadores domésticos), sem CNPJ (empregadores e por conta própria) e sem remuneração. O número de empregados no setor privado sem carteira assinada caiu 20,8%, significando 2,4 milhões a menos no mercado de trabalho. Já os trabalhadores por conta própria diminuíram em 8,4%, ou seja, 2,1 milhões de pessoas.
A queda da informalidade, no atual cenário, não é algo positivo, pois não está acompanhada do aumento do trabalho formal. Na verdade, os trabalhadores estão perdendo ocupação e ficando fora da força de trabalho, sem se inserir em outro emprego.
No relatório do PNAD Covid-19, divulgado anteriormente, em 24 de junho, o IBGE publicou que, em maio deste ano, houve uma queda de 18,2% no rendimento dos trabalhadores em relação ao valor normalmente recebido.
Também se verificou que as mulheres têm taxa de desemprego maior que a dos homens (12,2% e 9,6%, respectivamente) e que as trabalhadoras domésticas sem carteira assinada foram as mais afetadas pela pandemia. O afastamento devido à pandemia atingiu 33,6% dos empregados domésticos sem carteira assinada (categoria majoritariamente feminina). Como é de se esperar, a crise atinge de forma mais cruel aqueles já fragilizados em suas condições de trabalho.
No último relatório de junho, o PNAD revelou que o número de trabalhadores domésticos, estimado em cinco milhões de pessoas, teve uma queda de 18,9% em relação ao trimestre encerrado em fevereiro. São 1,2 milhão de trabalhadores a menos no mercado de trabalho.
Com essas reduções, o contingente na força de trabalho (pessoas ocupadas e desocupadas) chegou a 98,6 milhões de pessoas, uma queda de 7,4 milhões (-7%) em relação ao trimestre encerrado em fevereiro.
A crise sem precedentes do capitalismo, que se arrasta desde 2008, usa a pandemia como pretexto para acelerar a retirada de direitos e achatar salários dos trabalhadores a fim de manter as taxas de lucros da grande burguesia mundial. Foi essa crise que levou Jair Bolsonaro ao poder e faz com que a política agressiva contra os trabalhadores, levada a cabo pelo ministro da economia, Paulo Guedes, consiga ser aprovada sem dificuldades no Congresso Nacional. Para conter a revolta da classe trabalhadora, também é fundamental manter uma massa desempregada, que formará o “exército industrial de reserva”, ou seja, trabalhadores propensos a vender sua força de trabalho a baixo custo.
Não podemos cair no “conto do vigário” que foi a pandemia da Covid-19 a “criadora” da crise, responsável por jogar milhões de brasileiros ao desemprego e à miséria. Pandemias são previstas pela ciência e o estágio de desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade seria capaz de garantir a proteção e o combate necessário aos efeitos da doença se o sistema econômico fosse voltado a atender as necessidades da população e não a manter o lucro de uma casta de parasitas, como ocorre no capitalismo. A crise na economia mundial se arrasta há tempos e se agravou nos últimos dois anos devido aos conflitos comerciais entre EUA e China. A causa do colapso econômico não está em elementos alheios aos processos econômicos básicos do sistema. Um exemplo disto é Cuba, que apesar de todas as dificuldades econômicas, consequência direta das políticas criminosas de embargos impostos pelos países imperialistas, foi pouco impactada pelo novo coronavírus.
A esta situação de exploração absoluta e miséria, intrínsecas ao sistema capitalista, os trabalhadores devem impor sua capacidade de organização e sua força política, já que são a maioria e os verdadeiros produtores das riquezas. As organizações de luta dos trabalhadores precisam ampliar e fortalecer o debate sobre a defesa dos direitos conquistados e as formas de organizar o enfrentamento aos projetos burgueses. A escala móvel de horas de trabalho, por exemplo, em que se trabalha menos para que todos trabalhem, sem perdas salariais, é uma das alternativas para o desemprego.
Os trabalhadores organizados devem incorporar as massas desempregadas e jogadas ao trabalho precarizado à suas lutas e fazer crescer a consciência de classe contra o sistema. A derrubada do governo Bolsonaro (lacaio do imperialismo estadunidense e inimigo voraz dos trabalhadores), através da mobilização popular, deve ser encarada como medida urgente para se barrar a tragédia social que se avizinha com o desemprego massivo e o empobrecimento da população.