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Dificuldades durante a pandemia geram temores de abandono escolar

Milhões de alunos da rede pública estão sem acesso à internet e ao ensino, ministrado de forma remota, durante a pandemia. O fato gera temores de aumento do abandono escolar, que já é alarmante no Brasil. E, além da quebra de vínculo com a escola pelo distanciamento, a saúde mental de estudantes e professores, isolados durante a pandemia, pode ser afetada e é motivo de preocupação de muitos especialistas. 

São Paulo, que tem, só na rede estadual, cerca de 3,5 milhões de alunos, implementou o ensino a distância pela Internet (EAD) em abril. Segundo a Secretaria de Educação (SEDUC), foi dada a possibilidade de que atividades preparadas pelos professores pudessem ser retiradas em versão impressa nas escolas, o que contraria os protocolos de isolamento social. Tal medida colocou milhares de gestores e funcionários em risco de contaminação.

Durante a pandemia, as atividades formais, em todo o estado, têm sido limitadas. O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) afirma que somente 27% dos estudantes matriculados dão alguma devolutiva em relação às tarefas propostas pelos professores. “Falta inclusão digital tanto para professores quanto para alunos'', pontuou a presidenta da entidade, Maria Izabel Azevedo Noronha. Ainda assim, a SEDUC insiste em simular uma normalidade no ano letivo, obrigando professores a realizarem avaliações e atribuírem notas bimestrais, criando entre os alunos excluídos o temor de que serão reprovados.

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Manoel Gomes Araújo Filho, avalia que em todo o País a adesão ao ensino à distância é limitada entre os 14,2 milhões de alunos matriculados nos ensinos fundamental e médio nas escolas estaduais, e que também as frequências têm sido muito baixas. Os motivos vão além da falta de acesso à internet: muitos alunos moram em locais sem saneamento, sem ambiente silencioso para estudar e os pais não têm condições de ir à escola retirar o material.

Em Pernambuco, a rede de TV pública, que alcança 60% do estado, foi utilizada para transmitir conteúdo escolar. Dos 580 mil estudantes, oito mil acessaram aulas pela televisão na primeira semana, afirma Heleno Manoel Gomes Araújo Filho, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). A Secretária de Educação de Pernambuco informou que o conteúdo também pode ser acessado por uma plataforma virtual e que atingiria cerca de 80% dos alunos, dados que não têm confirmação e estão em desacordo com a realidade da existência de computadores e internet nas residências do estado. 

 

Medo, ansiedade e evasão escolar

 

Segundo um levantamento da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), nas escolas municipais espalhadas pelos 5.570 municípios brasileiros, estima-se que dos 16 milhões de alunos matriculados, cinco milhões estejam completamente desconectados durante a pandemia. 

O presidente da Undime, Luiz Miguel Martins Garcia, afirmou que a ansiedade devido à pandemia e a tensão trazida pelo uso de novas tecnologias pode ter consequências sérias, e que também há uma grande preocupação da perda de vínculo dos alunos, pois já existem famílias falando em tirar os filhos da escola e retornar no ano que vem. 

Em Belo Horizonte, muitos são os relatos de pais que tem mais de um filho e possuem apenas um aparelho celular com acesso à internet, mesmo assim sem memória suficiente para navegar pela plataforma online usada para o aprendizado à distância. Joice, que está desempregada, diz que os filhos sentem muita falta da escola, e que estão com medo de ter que repetir o ano. 

 

Estresse entre professores 

 

Além de uma adaptação rápida, obrigatória e sem o devido treinamento às mídias digitais, muitos professores, em todo o País, estão obrigados a cumprir expediente presencial nas escolas, na contramão da recomendação dos Órgãos de saúde. Um profissional da rede municipal de São José dos Campos, interior de São Paulo, que pediu para que o nome não fosse revelado, por medo de retaliação, relatou à imprensa que muitas vezes os professores precisam se aglomerar num determinado espaço para conseguir acessar a internet. "Temos medo de infectar os familiares que estão em casa respeitando o afastamento social". Não só professores, como a equipe de limpeza, administrativo e estagiários, complementa. "Na minha escola em particular, temos três casos positivos de covid-19 e sete que aguardam resultado de exames".

A exclusão causada pela falta de infraestrutura (computadores, celulares, tablets, acesso à internet etc.) coloca o ano letivo de escolas públicas em cheque. Além do atraso nos conteúdos, a impossibilidade de acesso às aulas virtuais impõe mais um distanciamento entre os filhos do proletariado e os filhos da burguesia, que possuem todas as condições materiais para continuar estudando neste momento. As aulas virtuais devem ser um complemento ao ensino formal, e não uma forma de segregação. Garantir o direito ao ensino de qualidade para todos é um dever do Estado, e lutar por ele é a tarefa da classe trabalhadora. 
 


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