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Colono X Colonizado: o despertar da violência por Fanon

Frantz Fanon, foi um revolucionário anticolonial, marxista, psiquiatra e intelectual. Sua militância na Frente de Libertação Nacional da Argélia e seu trabalho sobre a psicologia do colonizado são inspirações incontornáveis para retomar a radicalidade da estratégia socialista. Segundo o autor, em um mundo colonial, marcado pelas violentas ferramentas opressoras do sistema capitalista, a tentativa de tomada de consciência e o despertar da contra-violência dos oprimidos se tornam quase que fenômenos naturais diante das atrocidades cotidianas sofridas pelos povos colonizados. A crise econômica mundial e a pandemia expuseram de forma estarrecedora como a classe colonizada (oprimida e operária) é explorada. As ferramentas da metrópole, como explicou Fanon em seu livro “Os Condenados da Terra”, trabalham a todo o vapor para banalizar os danos, mortes e reprimir qualquer tipo de levante popular, mesmo os espontâneos, que atinjam de alguma forma os meios de produção que ainda estão nas mãos capitalistas. 

Observando a realidade nacional a partir da perspectiva de Fanon, a sociedade brasileira dos dias atuais ainda é enquadrada na condição de colonizada. De forma violenta, o povo brasileiro, que foi tomado de suas origens, ainda segue sendo controlado e violentado pelo imperialismo, oligarquias, conglomerados econômicos e monopólios mercantilistas. No Brasil, agora com um governo de extrema-direita, essa visão de povo colonizado ficou ainda mais nítida. Basta observar as ações e reações de Bolsonaro em relação à política internacional, mais especificamente as relacionadas aos Estados Unidos da América. 

Os partidos nacionalistas que são conceituados por Fanon, semelhantes aos atuais partidos reformistas, ainda seguem fazendo sua tarefa de fazer acordos para proteger os interesses próprios em nome da preservação do sistema escravocrata vigente, em troca do privilégios para alguns poucos dirigentes.  Os “intelectuais colonizados”, que seguem na política sem criar consciência da situação colonial, imobilizam os movimentos sociais. Ainda assim, de forma velada, estes intelectuais tem o potencial de fazer transparecer pequenos clarões de lucidez que, descolado das massas, não são suficientes para a real mudança social. Assim, a política de frente ampla, que reúne as figuras revisionistas, negociadores do capital, representantes da alta burguesia e algozes da classe trabalhadora, é vendida como uma “possível saída” para a crise política em nome da preservação da democracia. Contudo, conforme explica Fanon, é  impossível existir democracia em uma nação colonizada. 

Os “condenados da terra” seguem trabalhando em perspectiva equivocada, acreditando ser possível viver em harmonia em um sistema que tem como prerrogativa a exploração do homem sobre o homem, sem tomar a consciência que o debate é sobre luta de classe. Essa tomada de consciência e a violência organizada é a saída para a tomada dos meios de produção e destruição total desse sistema de opressão. O espontaneísmo de mobilizações, que começa a fervilhar em algumas partes do mundo devido à exposição do método de opressão capitalista, precisa ter como direcionamento a tomada de consciência contra o sistema de exploração vigente. 

Não sendo assim, continuaremos a ser condenados e uma grande parte da população, aquela que não detém os meios de produção, continuará sendo morta em tempos de crise capitalista. É o que ocorre com a pandemia do novo coronavírus – quem está morrendo mais, em sentido numérico, são justamente os trabalhadores, os pretos e pobres.
 


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