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Correios dos Estados Unidos: na mira das privatizações e das eleições

O projeto neoliberal, arma burguesa para aumentar a exploração dos trabalhadores de todo o mundo, tem nas crises seu momento de maior oportunidade e, ao mesmo tempo, de maior fragilidade. Cada crise capitalista puxa o sistema para mais próximo do abismo, mais próximo de se tornar irreversivelmente instável. Ao mesmo tempo, as crises criam a oportunidade de privatizar o que ainda resta de patrimônio público, com o objetivo de extrair lucros e entregar aos parasitas do mercado financeiro tudo o que foi construído com dinheiro do povo, além de destruir o que resta de direitos trabalhistas. Em cada momento de desastre econômico, são desferidos golpes terríveis contra o proletariado e, sem um contragolpe forte de movimentos revolucionários, surge para oportunidade perfeita para tomar posse de tudo o que poder estatal controla.

No coração do capitalismo, os Estados Unidos da América, um golpe brutal contra a Agência de Correios (USPS) exemplifica a política neoliberal. A empresa estatal está sob ataque da administração de Donald Trump, o atual presidente do país. Os correios estadunidenses, em tempos ordinários, nunca deram prejuízo: a maior parte de sua arrecadação tem como fonte a venda de selos e a entrega de cartas leves, propagandas, produtos leves e de pouca mão-de-obra para entrega. Pacotes grandes, como os comprados no site da megaempresa de varejo Amazon (cujo dono, Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, quase duplicou sua fortuna durante a pandemia para um valor próximo de 200 bilhões de dólares), necessitam de mais viagens e mais gastos para a entrega, visto que ocupam muito mais espaço nos pequenos caminhões utilizados pela USPS e, portanto, aumentam muito o número de viagens na mesma rota. A atual pandemia do Covid-19, com o fenômeno das quarentenas individuais, proporcionou um crescimento extraordinário de vendas on-line e da necessidade desse tipo de entregas, ao mesmo tempo que a paralisação de grandes setores da economia quase extinguiu o envio de cartas leves e propagandas pelo correio devido ao fato de as entregas não serem lucrativas e a um aumento de jornada (e pagamento de horas extras) aos trabalhadores, já que grande quantidade deles têm se infectado com o coronavírus. Se, por uma lado, a crise sanitária fez de aumentar em absoluto o número de entregas, por outro, a má gestão da USPS produziu um rombo nas suas finanças. 

A USPS tem o dever público de providenciar entregas a preços acessíveis a todo país, incluindo regiões de baixa densidade populacional, que acabam gerando prejuízos para o serviço. Para possibilitar a cobertura igualitária, recursos de regiões mais lucrativas são utilizados para cobrir rombos gerados pelo atendimento a outras localizações, criando um serviço rentável e justo. Além disso, os trabalhadores dos correios estadunidenses estão entre os poucos que ainda têm direitos trabalhistas e salários dignos, devido a movimentos sindicais fortes e greves históricas, que chegaram a paralisar a economia do país. Tal instituição é o terror dos burgueses e dos apóstolos do neoliberalismo: o sonho da corja de capitalistas e parasitas é destruir e privatizar a USPS, reduzindo os salários para o mínimo possível e aumentando as tarifas para o mais alto valor possível, o que estrangularia o atendimento à população de regiões com baixa densidade de habitantes.

Porém, mais do que a ambição pelos lucros que a privatização poderá gerar para alguns grupos econômicos, as eleições deste ano também colocam os correios na mira de Trump e do seu desejo de obter um segundo mandato por meio de fraudes nas eleições de outubro. A aprovação de Trump entre o eleitorado encontra-se baixa devido ao desastre da crise sanitária, que fez dos EUA o recordista em quantidade de casos e de mortos por Covid-19 no planeta, e à incontornável crise econômica que se arrasta desde 2008. Devido à pandemia, a eleição, em grande medida, terá de ser feita por votos enviados pelo correio (prática comum nas eleições dos EUA). Ciente das chances reais de perder a eleição, Trump já está se posicionando para destruir a legitimidade dos correios como instituição e, portanto, a legitimidade das futuras eleições. Além de regularmente espalhar mentiras sobre a USPS, ele colocou no posto de chefe dos correios um dos doadores de sua campanha, Louis DeJoy, cujo mandato tem sabotado a instituição todas as formas, tentando destruí-la por dentro. DeJoy criou barreiras para as entregas em tempo hábil, inclusive proibindo a realização de horas extras, o que quase parou o processamento de entregas, devido a mão-de-obra que escasseia cada vez mais.

Com o sucateamento da empresa e as sabotagens da administração, Trump e o grande capital se preparam para descer como abutres sobre a carniça da USPS. Se tais ações forem bem-sucedidas, é provável que mais um golpe, por meio de eleições fraudadas, ocorra nos EUA no final deste ano, a exemplo do que foi visto no processo de recontagem de votos, em 2000, na eleição do outro republicano George W. Bush.

A situação dos trabalhadores da USPS mostra que a classe trabalhadora mundial está na mira dos projetos privatistas das grandes corporações capitalistas e dos arranjos políticos do imperialismo. O processo de sucatear para privatizar é o mesmo que ocorre com os Correios no Brasil, cujo plano de privatização está na ordem do dia do governo Bolsonaro. Contra o mecanismo de sucateamento da empresa, através da retirada de direitos, contratações terceirizadas, péssimas condições de trabalho e baixos salários, os trabalhadores dos Correios entraram em greve a partir de ontem, dia 17. Diante do que ocorre nos EUA, o governo brasileiro, capacho do imperialismo coordenado por Trump, deverá agir, com apoio da imprensa burguesa, para desqualificar e oprimir essa luta que, se vitoriosa, poderá colocar em xeque a política privatista e impulsionar o levante da classe trabalhadora brasileira, servindo de exemplo para o mundo. É imperativo que os trabalhadores estadunidenses também resistam a tais ataques, contra a deterioração ainda maior das suas condições de vida e em favor dos serviços públicos como direito de todos.
 


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