Em julho, um relatório elaborado por diversas agências da ONU, divulgou que, pelo quinto ano consecutivo cresce o indicador da fome na América Latina e Caribe, onde em 2019, 47,7 milhões de pessoas passaram fome, sem conseguir consumir o mínimo de calorias necessárias para levar uma vida ativa e saudável. Intitulado “Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo em 2020” (também conhecido por SOFI, sigla em inglês de “Estado da Insegurança Alimentar”) o relatório não leva em conta os impactos devastadores da Covid-19 na região e calcula que dentro de uma década serão 20 milhões de pessoas a mais enfrentando a fome, ou seja, em 2030 ela afetará 67 milhões de latino-americanos.
Atualmente, 7,4% da população da América Latina e Caribe são afetados pela fome, e a previsão é de que aumente para 9,5% em 2030. Segundo o relatório SOFI na América do Sul, esse número chegará a 7,7%, o que equivale a quase 36 milhões de pessoas. Já na América Central é previsto o aumento de 3%, que representam 7,9 milhões de pessoas. Na próxima década, 6,6 bilhões de caribenhos não conseguirão consumir as calorias suficientes para levar uma vida ativa e saudável.
Uma alimentação que forneça todos os nutrientes essenciais e a energia que cada pessoa necessita para se manter saudável custa mais caro no subcontinente americano. Seu valor é maior que o triplo do que uma pessoa que vive abaixo da linha da pobreza poderia gastar em alimentação diária. A SOFI estima que são mais de 104 milhões de habitantes da região impedidas de se alimentar de forma suficiente.
Além da fome, o estuda alerta também para um problema que cresce na região, que é a obesidade infantil, causada pelo consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, mais baratos e prejudiciais à saúde. Apesar da produção agrícola na América Latina e Caribe ser grande, a concentração de monoculturas extensivas, nas mãos dos grandes latifundiários, que visam apenas as exportações, não colabora com a oferta barata de alimentos saudáveis à população mais pobre. A FAO - Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura- uma das organizações que elaboraram o relatório junto com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Programa Mundial de Alimentos (WFP) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), alerta sobre os impactos serem ainda piores que os projetados neste estudo, por causa da pandemia da Covid-19.
Como resultados das políticas dos governos de Frentes Populares nos últimos anos na região, que fizeram concessões reformistas aos trabalhadores, entre 2000 e 2014, o número de pessoas com fome diminuiu nos 33 países da América Latina e Caribe em 35 milhões. Em 2015 entretanto, com a aceleração da crise econômica mundial e a emergência de governos de direita e extrema direita na região, iniciou-se um retrocesso, e os programas sociais enfraqueceram, de forma que em 2018, 43 milhões de pessoas já sofriam desse flagelo novamente.
As contradições do capitalismo se mostram na América Latina e Caribe com força jamais vista anteriormente. As políticas de Frentes Populares, que preconizaram alianças dos partidos de esquerda com amplos setores da burguesia, e que permitiram o avanço de programas para garantir o mínimo sustento às massas, foram derrotadas pela crise do sistema. O que interessa aos grandes capitalistas são as suas taxas de lucros. O que está em jogo para a burguesia agora é manter no poder governos subservientes ao grande capital imperialista, que garantam os mecanismos para explorar ainda mais a classe trabalhadora, colocando o peso da crise, em especial, nas costas da população dos países do chamado terceiro mundo.
Enquanto grandes corporações triplicam seus lucros bilionários durante a pandemia, os direitos básicos da população, como uma alimentação balanceada, saúde e educação públicas de qualidade e gratuitas, moradia e garantia de emprego com salários justos vão se tornando reivindicações que somente a luta acirrada da classe trabalhadora poderá conquistar.
