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Volta às aulas na pandemia: risco para a vida de milhões de brasileiros

Os recentes anúncios de retorno às aulas presenciais, feitos pelos governos de Minas Gerais, São Paulo e Paraíba acirraram o debate sobre a volta às aulas durante a pandemia no Brasil. Em meio à crise sanitária do Covid-19, os governadores, sob forte pressão dos proprietários de escolas privadas e de pais e mães trabalhadores, que não têm como cuidar de seus filhos pois estão trabalhando nesse período, planejam voltar às aulas presenciais, ignorando todos os alertas da comunidade científica sobre os riscos que a medida trará para toda a população.

É certo que o ensino remoto, por não abarcar todos os alunos devido a problemas técnicos (falta de computadores e celulares para acesso, falta de internet, sinal ruim, etc.), exibiu o projeto excludente das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e do Ministério da Educação, através do Conselho Nacional de Educação, que ignoraram as debilidades dos sistemas remotos de mantiveram a normalidade do ano letivo, com sobrecarga abusiva de trabalho aos professores e penalização, através de avaliações, dos alunos impossibilitados de participar. das atividades. Toda essa situação, aumenta a pressão em favor do retorno do ensino presencial, haja vista que a escola pública, mesmo com todos os seus problemas, é espaço de acolhimento e de proteção social à maioria das crianças e jovens das camadas mais pobres do país. 

 

Professores e pais rejeitam o retorno

 

Em São Paulo, o plano de volta às aulas do governo de João Dória (PSDB), propôs, inicialmente, a retomada em 8 de setembro. Como a situação da pandemia no estado não apresenta sinais de melhora, esse plano já foi flexibilizado, mas o Secretário de Educação insiste na necessidade do retorno. Contra a medida, ex-secretários da educação, médicos, professores e famílias se reuniram em um ato virtual, convocado pelo sindicato dos professores da rede estadual, Apeoesp, em 4 de agosto, pedindo a defesa da vida dos estudantes, familiares e dos profissionais da educação. Carreatas em várias regiões do estado também marcaram os protestos contra a imposição das aulas presenciais na pandemia. 

O ato do dia 4 também se posicionou contra um Projeto do prefeito da capital paulista, Bruno Covas (PSDB), que estabelece condições para a volta e cujo principal problema é a possibilidade de a prefeitura comprar vagas na rede particular de educação infantil. Ou seja, em plena pandemia, o PSDB agiliza seus planos de privatizar a educação através da política de vouchers (bolsas), o que significa salvar a rede privada da crise e retirar ainda mais recursos da educação pública.

No interior de Minas Gerais, na cidade de Coronel Fabriciano, mesmo sem alunos, os profissionais da educação foram obrigados a voltar às escolas. A decisão do prefeito Marcos Vinicius Bizarro (PSDB), que já foi até o Superior Tribunal Federal (STF) pedindo o retorno das aulas presenciais, ainda em maio, resultou em um professor em coma e mais 30 trabalhadores contaminados o coronavírus. 

Na Paraíba o cenário não é diferente e a vice-presidenta da CUT-PB, Socorro Ramalho, em resumo da decisão dos profissionais da educação do estado disse que “Enquanto a pandemia do novo coronavírus não estiver controlada e não sejam garantidos protocolos efetivos para proteger professores, professoras, alunos e familiares de todos, não retornaremos”.

Ela lembra da pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que concluiu que a volta as aulas nesse momento representa risco para 9,3 milhões de brasileiros de grupos de risco que vivem na mesma casa com crianças e adolescentes. Em assembleia virtual promovida pelo SINTE-PB, neste mês de agosto, os professores decidiram não retornar as aulas presenciais. Afirmam que, caso o governo sugerir o retorno das atividades sem nenhuma segurança, a categoria promoverá uma greve por tempo indeterminado

Para evitar o risco de contaminação no ambiente escolar, governadores e prefeitos teriam de testar a maioria dos casos suspeitos e rastrear todos os seus contatos, segundo conclusão de um estudo britânico publicado na revista Lancet Child and Adolescent Health. Porém, no Brasil, nem as pessoas com sintomas da Covid-19 são testadas devido à falta de recursos e testes, diretamente ligada às decisões políticas do governo genocida de Jair Bolsonaro. 

 

Manaus, o exemplo primeiro da imprudência 

 

O Amazonas, sob o governo de Wilson Lima, foi a primeira unidade da Federação a promover a retomada das atividades presenciais nas escolas da rede estadual de ensino da capital, Manaus. A medida recolocou o estado no centro dos debates sobre a pandemia, uma vez ele foi traumaticamente afetado pela doença que levou à construção de covas coletivas, superlotação de hospitais e colapso de todo o seu sistema de saúde pública. Em resposta, os professores da capital amazonense deflagraram uma greve, a partir do dia 10 de agosto, como um grito de resistência frente à insanidade de retomar as aulas presenciais da rede estadual de ensino na capital do Estado do Amazonas. Mobilizados, os professores denunciam as mentiras ditas pelo governo em relação aos protocolos de prevenção que seriam tomados. A volta do Ensino Fundamental, marcada para dia 24 foi adiada. 

Os educadores do Brasil reforçam a necessidade de os governos buscarem mecanismos para que os profissionais da educação ministrem aulas online e garantirem o acesso de todos os estudantes às plataformas de ensino remoto.  A situação do retorno às aulas presenciais coloca os atuais sistemas de educação do mundo todo em questionamento. Os recursos tecnológicos existentes atualmente podem e devem ser colocados à serviço de novas e eficientes metodologias educacionais. Porém, o que se vê é uma situação de segregação e exclusão dos mais pobres, que poderá impor ao mundo pós pandemia um retrocesso gigantesco em relação à universalização da educação.  Esses, são, portanto, os desafios para as próximas lutas em favor da educação pública, de qualidade, como direito de todos

No momento, o retorno em plena pandemia, sem vacina e sem testagens, é, na verdade, a perpetuação de uma política genocida, que irá aumentar a tragédia já vivida pelos brasileiros, quando o número de mortos ultrapassam 115 mil, sem sinais de controle.
 


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