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Trabalhadores da educação em Manaus, em greve pela vida

Em Manaus, onde ao menos 342 professores (as) da capital testaram positivo para a Covid-19 na primeira quinzena de retorno das aulas do Ensino Médio, ocorrida no dia 10 de agosto, os trabalhadores reagiram e paralisam as atividades nas escolas a partir de 1 de setembro.

A paralisação em defesa das vidas foi decidida pela categoria em assembleia mediada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Amazonas. O movimento persiste apesar das ameaças do governador do estado, Wilson Miranda Lima (PSC), que insiste em manter as aulas presenciais, mesmo os professores tendo aceitado manter as aulas remotas durante a greve.

O Amazonas foi o estado a bater recordes de contaminação por Covid-19.  Em maio, o estado chegou a ultrapassar as regiões Sul e Centro-Oeste juntas, em número de pessoas infectadas, os sistemas de saúde e funerário colapsaram e muitos morreram por falta de assistência. Ainda assim, Manaus foi a primeira capital que retomou as aulas presenciais. 

Além de não ter se preparado para a pandemia, o governo do estado não seguiu protocolos para o retorno das aulas presenciais dos seus 110 mil alunos, Afirma Isis Tavares Neves, diretora da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) em Manaus e ex-presidente do Sinteam: “fomos nas escolas fiscalizar e vimos aglomerações na entrada, alunos sem máscara e salas de aula com vidros chumbados, sem ventilação natural, e EPIs [Equipamento de Proteção Individual] de péssima qualidade”.

Como os alunos não são testados, o governo não está seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e isola somente os trabalhadores contaminados, quando deveria ser isolada toda a rede de pessoas que tiveram contato com eles. Além disso, a maioria dos trabalhadores e alunos usam o transporte público, o que pode fazer o número de contaminados aumentar drasticamente na cidade.

Os trabalhadores mobilizados se negaram a ir às escolas por tempo indeterminado, mas aceitam manter as aulas remotas. No entanto, a sindicalista ressalta que caso o governador não recue da decisão, haverá uma greve verdadeira, sem aula presencial, nem remota.

Os professores estão esperançosos de que um decreto da Secretaria Municipal de Educação de Manaus que determinou o retorno das aulas presenciais só para o ano que vem talvez possa ajudar a pressionar o governo estadual e contribuir em sua luta. 

A direção burocratizada do Sinteam, ao invés de organizar a greve para evitar o retorno às escolas, que levou ao aumento da contaminação já nos primeiros dias, preferiu adotar o caminho que representa, sempre, a derrota dos trabalhadores e recorreu à Justiça burguesa. O Ministério Público Estadual, por sua vez, alegou que não havia provas que justificassem o não reinício das aulas presenciais e endossou a decisão da Secretária da Educação. A resposta da MP, não levou em consideração a subnotificação, a falta de UTI'S com leitos suficientes para o atendimento no estado e os riscos de novos picos da doença, como ocorreu mesmo em países que aparentemente tiveram controle da pandemia e que a trataram com a seriedade devida.  

A reação partiu dos professores nas bases, que ao ver a realidade dos profissionais testados positivos nos primeiros dias, iniciaram os protestos que levaram o sindicato a convocar uma assembleia para decretar a greve. Em São Paulo, epicentro da pandemia no País, o governo estadual planejou um retorno gradual às aulas para o dia 8 de setembro, mas a medida esbarrou na recusa de professores e pais em colocarem suas vidas em risco. Se as Secretarias de Educação de vários estados insistirem com o arriscado retorno às aulas presenciais antes que se tenha qualquer garantia de segurança sanitária, o único caminho para os professores de todo o Brasil será organizar uma greve geral da educação, pela garantida de condições de acesso ao ensino remoto a todos, pela preservação da vida.
 


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