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Avanço sobre os territórios indígenas

O avanço do novo coronavírus nos territórios indígenas e as pressões causadas pelas invasões de territórios onde vivem povos isolados tem provocado alertas das entidades dedicadas à proteção dos territórios indígenas da Amazônia. O Conselho Missionário Indigenista (Cimi), por exemplo, manifestou recentemente preocupação quanto à ameaça de genocídio contra esses povos sem contato com a sociedade. Um grupo de isolados em um sítio de Seringueiras, em Rondônia, mais especificamente no entorno da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau foi descoberto em junho deste ano, por exemplo. O território esteve na lista dos mais desmatados do país em 2019.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que, além da Uru-Eu-Wau-Wau, há mais indígenas isolados nas terras de Tis Tanaru e Massaco, também em Rondônia. A Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé revela que pelo menos oito grupos de indígenas isolados no estado estão "correndo risco com a pandemia".

Dom Roque Paloschi, presidente do Cimi e arcebispo de Porto Velho, disse à imprensa que: "com a invasão, o desmatamento e as queimadas nas terras indígenas vão se reduzindo o espaço desses grupos que preferem não ter contato com a sociedade.” Por outro lado, a presença dos garimpeiros e madeireiros, que não estão fazendo quarentena, é também um caminho de chegada do coronavírus. Para Paloschi, “a história da nossa pátria amada idolatrada de pandemia é o caminho do genocídio".

Dom Roque também alerta sobre o risco do contato desses indígenas com a sociedade externa e com a sua bagagem de doenças que, para um povo isolado pode ser ainda mais fatal, devido à falta de imunidade contra doenças com as quais nunca tiveram contato. 

Angela Kaxuyana, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), em entrevista ao portal G1, alerta que há um risco de genocídio eminente entre esses povos. Isso porque as doenças chegam a eles de forma mais violenta, principalmente por conta da vulnerabilidade: "Além de nos preocuparmos com o avanço da doença para que não mate mais gente, ainda temos que nos preocupar com nosso território invadido, com os garimpeiros trabalhando 24 horas dentro dos nossos territórios de forma ilegal, com as ameaças que as lideranças estão sofrendo. Está claro que a presença dos invasores é uma porta de entrada do coronavírus". Kaxuyana explica a preocupação dessas comunidades com a perda de pessoas mais velhas, que significa para eles a perda de seu patrimônio, de um sentido, da história, de uma língua. 

Hoje, no Brasil, há mais de cem povos indígenas em situação de isolamento voluntário, principalmente na região amazônica. É de importância crucial sua proteção nesse período de pandemia. No entanto, o governo federal vai na direção oposta dos direitos constitucionais desses povos. Bolsonaro dissemina o preconceito contra os povos indígenas ao afirmar publicamente que os indígenas devem ser integrados e “viver como seres humanos”. Ao entregar a direção da Funai a ruralistas, impôs um ar de extrema insegurança para direitos sociais e ambientais. Demarcações de terras, fiscalizações e proteção à saúde estão obstruídas nos planos desse governo genocida. O aumento da violência no campo, a expansão do desmatamento e destruição ambiental através das queimadas são marcas de seu governo. Tudo em benefício dos lucros do agronegócio exportador e predatório. Nesse cenário, a luta pela preservação cultural e pela sobrevivência dos indígenas fica cada vez mais imperativa. 
 


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