Recente reportagem do jornal Folha revelou que o desvio de R$ 7,5 milhões de reais, doados pelo Frigorífico Marfrig para a compra de testes rápidos da Covid-19, para o programa ‘Pátria Voluntária’, coordenado pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O Frigorífico Marfrig, um dos maiores do país, anunciou em 23 de março que passaria o dinheiro ao Ministério da Saúde para a compra de 100 mil testes rápidos do novo coronavírus. A doação, feita num momento em que o Ministério da Saúde, que tinha como titular Luiz Henrique Mandetta, anunciava que o governo tentaria firmar parcerias com a iniciativa privada para financiamento de parte das compras dos kits. O Brasil já passava pela pandemia e não tinha os kits de testagem para efetuar a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de testar em massa a população.
De acordo com a reportagem, o dinheiro foi desviado para o fundo do projeto “Arrecadação Solidária”, uma extensão do programa “Pátria Voluntaria”. O programa efetuou o repasse de dinheiro público, sem edital de concorrência, à instituições evangélicas ligadas à ministra Damares Alves.
A Marfrig teria sido consultada pelo governo sobre a proposta de o dinheiro não ser destinado para compra dos testes, mas investido em ações de combate aos efeitos socioeconômicos da pandemia de Covid-19, especificamente o auxílio a pequenos negócios de pessoas em situação de vulnerabilidade. A empresa alega que, como a ação estava diretamente ligada à mitigação dos danos causados pela pandemia, concordou com a nova destinação dos recursos doados.
Se a compra dos kits de testagem tivesse sido efetuada na época da doação, a identificação dos contaminados pelo coronavírus teria sido mais eficaz e ajudado a controlar a disseminação do vírus, isolando contaminados. Porém, o governo Bolsonaro politizou todas as ações que envolvem a pandemia e preferiu usar as verbas para fortalecer sua base social entre os evangélicos.
Os R$ 7,5 milhões da Marfrig representam quase 70% da arrecadação do programa da primeira dama e parte deles foram destinados justamente ao Ministério de Damares Alves, cuja política é de ataques aos direitos democráticos das mulheres e crianças. O próprio presidente da Fundação do Banco do Brasil, Asclépius Ramatis, chegou a manifestar preocupação com o repasse de R$240 mil à uma das ONGs beneficiadas, a AMTB (Associação de Missões Transculturais Brasileiras), uma vez que ela tem “caráter religioso”. Foi essa ONG, inclusive, que, coordenada por Damares, tentou impedir o aborto da criança de 10 anos estuprada no Espírito Santo.
O caso revela inúmeras facetas de um governo genocida. Primeiro confirma seu desdém para com o combate aos riscos da pandemia. Por outro lado, revela que o discurso liberal de parcerias com a iniciativa privada enquanto corta verbas da saúde pública é uma falácia, haja vista que até mesmo as doações públicas de empresários foram utilizadas contra os interesses do povo. Trata-se de um governo que atua, em todos os níveis, para favorecer sua manutenção no poder, enquanto leva a classe trabalhadora à morte e à miséria.