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O mundo em chamas


Os avisos foram muitos durante o século XX: repetidas vezes cientistas e ativistas gritaram “o mundo está em perigo, desastres cairão sobre nós se não derrubarmos sistema capitalista!” Mas, para a burguesia, dona do capital, diante do santo lucro, o meio ambiente e as condições para a existência da maioria da humanidade são meros detalhes. Dia após dia, ano após ano, as contradições escondidas no tecido do sistema passam a se revelar.

Nos idos de janeiro deste ano, na Austrália, as cidades de Sidney e Melbourne foram cercadas por chamas e, por alguns momentos, pareceu que seriam consumidas pelo fogo. Isto foi apenas o primeiro impacto em um ano marcado pelas consequências causadas pela devastação da natureza e dos ambientes tocados pela exploração capitalista. 

A pandemia que nos assola, que pegou a maioria da população “de surpresa”, já era previsível há muito por governantes e cientistas.  A transmissão de vírus entre espécies distintas, como no caso do coronavírus, ocorre principalmente por causa da expulsão de animais de seu habitat, destruído para servir à acumulação do capital, que passam a ficar mais próximos de seres humanos e, portanto, mais propensos a transmitir eventuais patologias que rapidamente podem ser espalhar entre as pessoas. Foi o caso do H1N1, é o caso da Covid-19 e será o caso das próximas pandemias que inevitavelmente se sucederão, caso os avanços científicos espetaculares de nossa era continuem a ser instrumentos de poder de uma casta de parasitas que não se importa com o bem comum. 

Para coroar o ano em que o mundo proverbialmente parou, parte significativa do planeta parece estar em chamas. A Califórnia, notória por regularmente irromper em chamas, teve em 2020 a maior temporada de incêndios já registrada. O fogo acabou alcançando o Oregon, na costa oeste dos Estados Unidos e os dias tornaram-se laranja, como se as pessoas tivessem sido transportadas para dentro de uma das famosas pinturas do inferno de Dante.

Em 2019, cidades inteiras da Califórnia, como Paradise (Paraíso), sumiram do mapa e, na época, pensou-se que a situação não poderia piorar. Com mais de quatro milhões de acres (mais de um milhão e meio de hectares) queimados, 2020 mais do que dobrou a quantidade de terreno devastado pelo inferno terrestre. E, conforme as contradições se acumulam, mais e mais desastres tendem a ocorrer, considerando que uma das peculiares qualidades dos fenômenos dialéticos é sua não-linearidade, ou seja, há momentos em que nada parece acontecer e outros em que uma infinidade de coisas ocorre de uma vez só.

No Brasil, sob governo de Jair Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, representantes dos interesses agro exportadores, as florestas do Amazonas e o bioma do Pantanal estão sendo reduzidos a cinzas. O desejo irrefreável do capital agrícola de abrir novos espaços para pastagem de gado, somado a uma temporada de seca causada pelo aquecimento global, produziram a maior devastação do Pantanal já vista: quase 20% do território coberto pelo bioma foi devastada – quase três milhões de hectares – uma vastidão inimaginável. No afã de liberar terreno para a produção de carne em escala industrial, a burguesia latifundiária poderá produzir sua própria ruína, pois a devastação de regiões como o Pantanal e a Amazônia pode criar imensos desertos, onde será impossível qualquer produção de alimentos. 

O fim dos habitats das mais variadas espécies, por meio da exploração predatória do capitalismo, coloca em risco, inclusive, a espécie humana, já ameaçada pela fome e pela sede em muitas regiões do planeta. A corrida é uma só: acabar com o capitalismo antes que ele acabe conosco e colocar todo o desenvolvimento científico e toda a capacidade criativa do ser humano em favor da distribuição e usufruto igualitários das riquezas produzidas pelo homem e pela natureza. Ainda que o capitalismo pareça estar sólido e capaz de se livrar de sua maior crise, aumentando a exploração da burguesia sobre os trabalhadores e sugando, como gafanhotos os recursos naturais, o momento de colocar o sistema abaixo, inevitavelmente chegará, por suas próprias contradições. É nosso dever estarmos prontos para tal momento.
 


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