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Peru: um país em convulsão

Na segunda-feira, 9 de novembro de 2020, o presidente do Peru, Martín Vizcarra, foi removido do seu posto por meio de um processo de impeachment em que foi acusado de corrupção. Ele subiu ao poder substituindo Pedro Pablo Kuczynski, que renunciou ao cargo em 2018, também após denúncias de corrupção. Ambos os presidentes servem a um projeto neoliberal que mantém o Estado sem recursos e sem projetos de melhora de vida da população mais pobre.

Vizcarra é parte de uma coalizão anticorrupção que, junto com Kuczynski, subiu ao poder prometendo uma limpeza no aparato estatal peruano apodrecido, sobretudo, pelos fujimoristas, a extrema direita que busca continuar o legado da ditadura sanguinária de Alberto Fujimori. A filha de Fujimori, Keiko Fujimori, está na cadeia, acusada de corrupção, e grande parte do parlamento peruano também está sob investigação, sobretudo por subornos ligados à empreiteira brasileira Odebrecht.

Como em todo processo de derrubada de governos sob pretexto de combate à corrupção, o impeachment de Vizcarra foi realizado de forma questionável, configurando-se como mais um golpe de estado promovido pelos fujimoristas. As maiores acusações contra ele não trataram do tema da corrupção, mas basicamente, para ganhar apoio popular, da sua incompetência em gerenciar a pandemia do Covid-19, que está devastando o País. Com 35000 mortos, o Peru está em terceiro lugar no planeta em mortos per capita, com mais de 1000 mortos por milhão de habitantes. O PIB peruano encontra-se em queda livre (com projeções de queda de 15% no ano), pois grande parte da economia do país – devastada pelos projetos neoliberais – é informal. Sem proteção estatal, os trabalhadores sofrem os impactos da pandemia em suas vidas de forma dramática. 

A crise econômica mostra, novamente, que o discurso anticorrupção é um artifício institucional criado para afastar mais um governo e tentar resolver a crise da burguesia nacional, representada por uma casta de políticos a serviço do imperialismo, que precisa manter suas taxas de lucros e controlar a revolta popular. 

Com a queda de Vizcarra, subiu ao poder Manuel Merino, o líder do congresso peruano. Liderança fujimorista, Merino é acusado de ter ligações com organizações criminosas e sua chegada ao poder gerou protestos de populares que tomaram conta das ruas. Com as maiores manifestações vistas nos últimos vinte anos, com um saldo de duas mortes e centenas de feridos, Merino foi obrigado a renunciar e a crise no País se acirra a cada dia. O Congresso peruano escolheu Francisco Rafael Sagasti, do Partido Morado, de centro-direita, como o novo presidente, que governará o país até julho de 2021. As próximas eleições presidenciais ocorrerão em maio.

A crise política do Peru não tem absolutamente nada a ver com o combate à corrupção. A população entendeu isso e tomou as ruas não apenas para se defender das ameaças golpistas da extrema-direita representada pelo fujimorismo no parlamento, mas também contra o conjunto da apodrecida política peruana controlado por uma constituição fujimorista. A causa anticorrupção não passa de pretexto para que um setor da burguesia nacional se livre de outro, todos atrelados aos interesses imperialistas. As moléstias que acometem um país são causadas não por indivíduos, mas pela tirania do sistema capitalista. Se a esquerda peruana conseguir se aproveitar da instabilidade do país e lançar uma proposta alternativa ao inferno neoliberal, os peruanos podem avançar na compreensão sobre a raiz de seus problemas sociais e organizar a luta anticapitalista com unidade dos trabalhadores. 
 


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