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Consciência Negra em tempos de bolsonarismo

Vivemos em tempos de retrocessos, período marcado por um intenso ataque às conquistas sociais e pautas significativas para a classe trabalhadora. Nós, da Luta Pelo Socialismo (LPS), temos constantemente denunciado o aumento da desigualdade social e do empobrecimento em massa, a violência sistêmica do Estado e o acirramento da precarização do trabalho, como frutos da política neoliberal vigente que atua, na prática, com a efetivação da necropolítica. Uma política perversa de extermínio, que determina quem vive e quem morre; que provê meios para que alguns vivam e outros morrem. Sob o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), o Brasil aprofunda suas práticas de necropolítica. Trata-se de um governo a serviço do grande capital, cujas ações têm como intenção final a manutenção e fortalecimento do capitalismo, alargando o foço entre as classes sociais. 

O mesmo governo que afirmou que “negros pesam arroubas”, nos colocando na condição de animais, nomeou para comandar a Fundação Palmares – órgão que, em tese, deveria tratar das questões de interesse da população negra – pessoas sem a menor consciência de classe, muito menos de raça. O Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial não tem mais nenhuma atuação efetiva, enquanto a precarização das leis trabalhistas atinge de forma mais impactante à população negra. Sem dúvidas, vivemos em tempos de extermínio do proletariado, que é majoritariamente negro. Assim como George Floyd, negro estadunidense assassinado pela polícia de seu país, aqui no Brasil também não conseguimos respirar.

Frente à um contexto de ataques frontais, pode parecer para parte da esquerda que se diz revolucionária, um luxo ou uma perda de tempo, gastar nossas energias para tratar de questões raciais e consciência negra. É como se houvesse coisas (pautas) mais importantes e urgentes para fazer/lutar. 

Neste sentido, questões precisam ser esclarecidas: quando lutamos contra o capitalismo e pela sua superação e construção de uma nova ordem social, precisamos levar em conta que a escravidão negra esteve na base deste sistema que estrategicamente construiu o conceito de raça e suas hierarquizações, e a prática de racismo. Não podemos esquecer que a abolição formal da escravatura em quase nada alterou a realidade da população negra, que seguiu em condição de miserabilidade. Temos que nos lembrar que a base da nossa pirâmide social, ou seja, os mais pobres e mais explorados, é formada por negros; devemos constar os dados sobre educação, moradia, saúde e outros para verificar a perpetuação, ao longo dos anos, da população negra como aquela que ainda tem menos acesso a esses bens e serviços. O Atlas da Violência não nos deixa esquecer o genocídio cotidiano da juventude negra. Por fim, nunca é demais lembrar que classe social não é uma categoria abstrata. É formada por pessoas reais, socialmente racializadas.

Se queremos de fato fazer a luta de classe, se queremos garantir um governo do trabalhador, temos o dever de construir nossas pautas e lutas levando em conta que o proletariado é majoritariamente negro. Quando tratamos da Consciência Negra, estamos fazendo nossa luta de classe, estamos, de modo efetivo e concreto, enfrentando o sistema. Mas não é só. Também estamos formando nossas bases e nos formando na medida em que apresentamos uma outra História que põe por terra a perspectiva burguesa. Estamos dialogando com nossos camaradas, que o negro sempre esteve em movimento, nossa resistência antecede o navio negreiro. A luta por emancipação do povo negro é a luta por emancipação do trabalhador!

Mais que resistente, a população negra é resiliente e combativa. Historicamente viemos questionando e enfrentando o capitalismo. No mês da Consciência Negra, diante de um governo racista como o atual, faz parte da tarefa revolucionária fomentar uma Consciência Negra atrelada à consciência de classe, para evitar as armadilhas burguesas da aquisição de mercadorias. Mas também temos que ter em mente o fator racial no interior das classes. Consciência Negra é, ao mesmo tempo, resistência e enfrentamento. Nada mais necessário diante da realidade bolsonarista.
 


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