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Ford: fim da Montadora brasileira e oi para a Importadora

Após o corte dos subsídios para as fabricantes automobilísticas brasileiras em dezembro, o governo reformulou o acordo em que voltaria a fornecer apenas a metade do subsídio a partir do final de Janeiro. Ainda assim, a Ford anunciou no último dia 11, a decisão de fechar de imediato suas fábricas no país. A fabricante continuará produzindo um certo número de exemplares, para cumprir com a tabela proposta antes e, após isso, irá se tornar uma simples importadora. Como a fábrica de Camaçari (BA), se mantinha graças aos subsídios disponibilizados pelo governo da Bahia desde 2001, argumenta-se que a redução dos subsídios tenha sido a "gota d'água" para a empresa fechar suas fábricas brasileiras. Também serão fechadas as fábricas de Taubaté (SP) e Horizonte (CE). Em 2019, a fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP) já havia sido fechada.

Contrariando o discurso do presidente Jair Bolsonaro, que “denunciou” que a Ford queria incentivos fiscais para permanecer no país, um estudo do Dieese mostra que a cada R$ 1,00 gasto na indústria automobilística, é adicionado R$ 1,40 na economia. Com o fechamento das fábricas da Ford, serão extintos 118.864 mil postos de trabalho diretos e indiretos, com uma perda de massa salarial de R$ 2,5 bilhões aos trabalhadores. A perda de tributos e contribuições ficará na ordem de R$ 3 bilhões ao ano, um grande impacto na economia brasileira

Com mais de 100 anos de História no país, a Ford foi a primeira indústria automobilística a se estabelecer no Brasil, chegando aqui em 1919. Em 1980, a empresa era a maior empregadora entre as montadoras, com 21.800 trabalhadores e uma produção nacional de 165.500 unidades/anos. Em 1990 somou 17.578 trabalhadores, e em 1999, 9.153. Em 2020 a fabricante foi responsável por licenciar 6,8% do total de veículos no Brasil, sendo que 84% dos veículos da Ford licenciados, foram produzidos dentro do país. Com a saída do Brasil, a produção na América do Sul será centralizada na Argentina e no Uruguai.

Apesar dos números, a Ford alega que vem tomando prejuízo a quase uma década e a imprensa corporativa burguesa tratou o episódio como mais um momento para defender os interesses da grande burguesia industrial, que exige mais rigor e pressa na aprovação das reformas, como a tributária, em benefício próprio. Portanto, tem divulgado à exaustão a alegação da empresa de que empreender no Brasil é difícil, ainda mais na Indústria, por causa dos impostos. O objetivo é defender os ajustes fiscais, sendo que a política fiscal é a mesma de muitos anos e a empresa nunca deixou de lucrar. 

Ocorre que a economia brasileira está em frangalhos e não dá sinais de recuperação. A queda do mercado interno e das exportações leva à queda da produção. De acordo com o economista Luis Nassif, “há outros fatores, como a entrada das montadoras coreanas e chinesas no mercado brasileiro, a perda do ímpeto inovador que fez a Ford, dez anos atrás, montar uma fábrica modelo na Bahia; a revolução da robótica; a mudança no perfil de combustível dos veículos. Mas o ponto central foi a queda do mercado, devido à continuidade de políticas econômicas equivocadas, que vem desde os desastres de Joaquim Levy.”

Para os trabalhadores, mais importante do que debater algum plano econômico que levaria a Ford a ficar no país e a preservar milhares de empregos é organizar a reação a essa política pró-imperialismo que visa apenas o lucro das corporações. As centrais sindicais e os sindicatos das categorias envolvidas devem organizar os trabalhadores para enfrentar a desindustrialização do país com os instrumentos da luta de classes: ocupar as fábricas e tomar o controle da produção.
 


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