No fechamento de 2020, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica (IPEA), com os dados de dezembro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação acumulada para as famílias com renda mais alta (mais de R$ 16.509,66), foi de 2,7%, enquanto para as famílias de menor rendimento (menos de R$ 1.650,50), a alta foi de 6,2% - uma variação de 2,5%.
Observa-se que, embora a média da inflação do ano tenha fechado em 4,57%, para quem ganha menos o peso da inflação foi maior. No ano de 2019 o índice inflacionário entre pobres e ricos foi praticamente o mesmo 4,42% e 4,18% respectivamente, mas desde o final do primeiro trimestre de 2020, o segmento de renda mais baixa foi o que registrou a maior taxa de inflação.
No ano de 2020 como um todo, o descompasso se explica pela forte aceleração de preços de alimentos e energia, que pesa para os mais pobres, e uma alta menos intensa nos preços dos serviços e dos combustíveis, que afetam os gastos das famílias mais ricas. As maiores contribuições à inflação para famílias de renda mais baixa vieram dos grupos habitação, alimentos e bebidas, repercutindo a alta, no mês de dezembro, de 9,3% nas tarifas de energia e os aumentos no preço do gás de botijão (2,0%), arroz (3,8%), feijão (3,3%), batata (7,3%) e carnes (5,6%), segundo relatório divulgado pelo IPEA.
Outro agravante desta situação está no fato de que, para as famílias mais pobres os gastos mais afetados pela inflação, com alimentos, energia e gás, comprometem 37% dos seus orçamentos. Os reajustes acumulados no ano dos preços do arroz (76%), feijão (45%), carnes (18%), leite (27%) e óleo de soja (104%), além das tarifas de energia (9,2%) e do gás de botijão (9,1%), contribuíram para uma alta inflacionária bem mais intensa que a observada no segmento mais rico.
Já os itens de consumo com grande peso no orçamento dos abastados, tiveram alta mais moderada, como mensalidades escolares e serviços médicos e hospitalares. Houve até deflações em itens consumidos majoritariamente pela população com maior poder aquisitivo, como passagens aéreas, seguros de automóvel e gasolina, o que explica a menor pressão inflacionária sobre este estrato da população.
Além do desemprego, da perda dos direitos trabalhistas e da precarização dos serviços públicos que os assiste, os trabalhadores mais pobres sofrem de forma agressiva os impactos da recessão econômica. Isso porque, no capitalismo, são os que produzem as riquezas, os trabalhadores, que pagam o preço das crises criadas pela burguesia.