A destruição proposital e sistemática da história dos povos colonizados é uma das ferramentas do capitalismo para a opressão e dominação do terceiro mundo. Um dos caminhos para se alcançar o mínimo de consciência crítica sobre a situação de colônia em que estão inseridos países como o Brasil, passa pelo conhecimento e reconhecimento de suas raízes históricas.
Em vários momentos da história brasileira, ocorreram movimentos de grupos e pessoas negras, escravizadas ou não, que, devido à visceral brutalidade a que estavam submetidas, reagiram seja por meio de greves, manifestações, revoltas, criação de quilombos, insurreições, além de métodos individuais como auto-flagelação, suicídios, abortos provocados. Essas histórias de resistência foram, por muito tempo, esquecida. A partir da lei 10.639/03, uma conquista do movimento negro, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura Afro-Brasileira e da África, esta situação começou a mudar, ainda que a passos de formiga, muito em decorrência da má vontade dos poderes públicos.
É possível observar em várias das revoltas organizadas pelo povo negro, mesmo que inconscientemente, o caráter classista inserido em suas pautas. A greve Negra de 1857 derrubou impostos para a classe de ganhadores, grupo de trabalhadores organizados que faziam diversos tipos de serviços, desde a venda de alimentos até o carregamento de pessoas e objetos. Também podemos citar como exemplo O levante dos Jangadeiros, no porto de Fortaleza, Ceará, que através de uma forte greve, paralisou o mercado escravista, em 1881.
Neste momento ainda vivemos como colonizados. O motor do modo de exploração capitalista trabalha a todo vapor também para expropriar qualquer aspiração, passada por gerações, que possa fazer referência à luta, à resistência, e influenciar na correlação de poder entre a classe dominante e dominada.
Palmares foi umas das insurreições mais importantes da história do povo negro brasileiro. Conhecer as revoltas negras é entender que o que aconteceu no Brasil foi muito além de uma história embranquecida, eurocêntrica e essencialmente liberal. Portanto, trata-se de um passo importante para se obter a identidade e reivindicar a herança guerreira da nossa história para, a partir desse ponto, construir a luta contra o sistema de opressão que continua nos tratando como escravizados e continua a utilizar de métodos viscerais de brutalidade, com novas roupagens.
É preciso que nos organizemos, partindo da perspectiva histórica, mas sem se afastar da atualidade. O levante do povo negro, que hoje se encontra à margem da sociedade, precisa se desvencilhar das confusões colocadas pela ideologia burguesa, com o objetivo de impedir que encaremos de forma séria a luta de classes. Aquele que ainda acredita que é possível viver com justiça social em um sistema de exploração que mata, mutila e destrói, permanece com o véu do sonho capitalista, que tem como único objetivo explorar sua força de trabalho e privatizar sua corrente sanguínea.
"A reivindicação de uma cultura nacional passada não reabilita apenas; em verdade justifica uma cultura nacional futura." - Frantz, Fanon. Os Condenados da Terra.