De acordo com a ONU Mulheres, todos os tipos de violência contra mulheres e meninas aumentaram desde que o novo coronavírus começou a se espalhar de forma massiva. Isso inclui a falta de emprego, abandono escolar e um risco maior de doenças mentais. Segundo um infográfico apresentado no site da Organização, nos últimos 12 meses, cerca de 243 milhões de mulheres no mundo foram submetidas à situações de violência física ou sexual por um parceiro íntimo ou familiar. Dados recentes também apontam que estes números podem aumentar devido às tensões relacionadas à saúde, segurança, dinheiro etc., enquanto novas cepas do vírus são acentuadas pelas condições de vida em confinamento.
Na Argentina, Canadá, França, Alemanha, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos, autoridades governamentais, ativistas dos direitos das mulheres e parcerias da sociedade civil denunciaram crescentes denúncias de violência doméstica durante a crise sanitária e um aumento da demanda por abrigo de emergência. As linhas de apoio em Singapura e Chipre registraram um aumento de chamadas em mais de 30%. Na Austrália, 40% de trabalhadores e trabalhadoras da linha de frente de uma pesquisa da New South Wales relataram um aumento de pedidos de ajuda, uma constatação de que a violência está aumentando em intensidade.
Brasil, um dos países que mais mata mulher pela condição de gênero
No Brasil, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), os dados recentes apontam um aumento de 22% nos casos de feminicídio ocorridos entre os meses de março e abril de 2021. Durante o primeiro quadrimestre de 2020, logo no início da pandemia, o aumento foi de 14%, com o ápice em abril, quando foi registrado um crescimento de 37,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Isso equivale a 37,5 mil denúncias apenas nos quatro primeiros meses.
Um dos motivos desse aumento exorbitante é que a pandemia aprisionou as mulheres em casa com seus agressores, agravando ainda mais a situação de opressão diária e de contato com a masculinidade tóxica dos parceiros. É preciso, ainda, contextualizar que mesmo antes da pandemia, o Brasil já era o 5º país do mundo com maior índice de feminicídios.
Aumento da precarização nas relações de trabalho
Com relação ao trabalho, as mulheres também sofreram mais. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de sete milhões de mulheres deixaram seus postos de trabalho no início da pandemia, dois milhões a mais do que o número de homens na mesma situação. O ano de 2020 também foi marcado pela menor presença das mulheres na Taxa de Participação na Força de Trabalho (TPFT), no período analisado, com percentual de 51,7%, contra 56,4%, em 2019, e 60,2%, em 2015.
Devemos lembrar que, para as mulheres, não existe apenas uma “dupla jornada de trabalho”, existe uma jornada intensa, que não possui hora para começar ou terminar.
Muitas mulheres brasileiras, além de terem que trabalhar em Home Office, passaram a cuidar de alguém durante o período de pandemia. Segundo o site “Mulheres na Pandemia”, 50% das mulheres começaram a cuidar de alguém nessa crise sanitária mundial. O cuidado sempre foi “coisa de mulher”, mas isso tem feito com que muitas permaneçam aprisionadas. Mulheres são obrigadas a deixar o trabalho ou direcionar toda a sua energia para os cuidados da casa, dos filhos, maridos, mais velhos, etc. A pesquisa recente, intitulada “Sem parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia”, realizada pela ONG “Gênero e Número” e pela Organização Feminista “Sempreviva”, concluiu que entre as 2.641 entrevistadas, 47% afirmaram ser responsáveis pelo cuidado de outra pessoa: 57% são responsáveis por filhos de até 12 anos; 6,4% afirmaram ser responsáveis por outras crianças; 27% afirmaram ser responsáveis por idosos e 3,5% por pessoas com alguma deficiência.
O cenário da pandemia para as mulheres é extremamente caótico e avassalador. O aumento da violência contra as mulheres deve ser tratado com urgência, com medidas incorporadas nos pacotes de apoio econômico e estímulo que atendam realmente às necessidades destas mulheres, para que tenham o mínimo necessário para se manter vivas e seguras. Sabemos que dentro do capitalismo, e sua lógica de opressão, as mulheres são colocadas como objetos a serem usados e descartados quando não são mais necessários, e que podem ter suas vidas tomadas por seus parceiros, por elas não atenderem aos seus “desejos”. Esta lógica perversa de opressão, que coloca a mulher sempre numa posição subalterna ao homem, é intrínseca ao capitalismo e deve ser combatida por toda a classe trabalhadora. Os governos de todo o mundo devem adotar medidas que realmente estejam à altura da gravidade e escala do desafio e reflitam as necessidades das mulheres que enfrentam múltiplas formas de discriminação. Porém, devemos ter a consciência que, somente com o fim da sociedade de classes, a luta das mulheres por igualdade terá sucesso. Apenas com o fim do capitalismo, a opressão terá fim, seja ela de gênero, raça ou classe.
Foto: Marcos Santos/USP