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Pesquisas públicas em risco de colapso

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) corre grande risco de fechar as portas até julho por conta de dificuldades financeiras. É o que denuncia a reitora da Instituição, Denise Pires de Carvalho, e o vice-reitor, Carlos Frederico Leão Rocha, em artigo publicado no jornal O Globo. De acordo com a publicação, a UFRJ não tem condições sequer de arcar com os gastos relacionados às áreas de segurança, limpeza, eletricidade e água, colocando em risco mais de 10 setores, entre eles o da pesquisa de duas vacinas contra Covid-19, bem como testagem, insumos para pesquisas e funcionamento de leitos hospitalares. 

O corte no orçamento de mais de um bilhão de reais, sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, em 22 de abril deste ano, representa uma redução de 18% na comparação com o ano passado em verbas discricionárias, além do bloqueio de 13,8% das verbas, o que deixa apenas 4,3 bilhões para as instituições, metade do que tinham há cinco anos.

Para piorar a situação, mais da metade do orçamento aprovado ainda não está disponível – dos R$ 299,1 milhões, apenas 152,2 milhões foram disponibilizados. Uma parte foi bloqueada pelo Governo Federal e outra depende da aprovação do Congresso Nacional. Entre os R$ 146,9 milhões disponíveis, R$ 65,2 milhões já foram gastos e o restante, segundo a direção da UFRJ, só dá para pagar os custos por dois ou três meses.
 
A Denise Pires destacou a importância dos hospitais universitários no momento de pandemia. Na UFRJ, 150 novos leitos são destinados a pacientes com covid-19, com um número percentual de óbitos muito menor do que os demais hospitais do País. Em um comunicado oficial, a reitora declara que com o corte dos recursos, a educação brasileira ficará em estado crítico:  “É uma escolha que o País está fazendo, que é abandonar suas instituições públicas de ensino, pesquisa e extensão, a casa do saber, o local de geração do conhecimento, que pode trazer uma perspectiva de um futuro melhor para o nosso país com o almejado desenvolvimento socioeconômico''.  

A Federação Brasileira de Geólogos (FEBRAGEO) se manifestou, em nota, sobre a continuidade da produção científica das universidades federais estarem em risco.  Segundo a Federação, 60% do trabalho científico nacional vem dessas universidades, que realizam pesquisas de ponta em diversas áreas do conhecimento e atendem quase meio milhão de estudantes de graduação. 

A situação do ensino superior público é crítica. O corte de verbas para a pesquisa e a educação superior é mais uma fase do sucateamento da educação pública brasileira, em todas as suas instâncias. O governo Bolsonaro segue a risca a cartilha proposta pelas empresas multinacionais que comandam a educação privada, tornando cada vez mais precária a situação nas escolas e universidades públicas, enquanto cria mecanismos para entregar os recursos da educação para os gestores privados. O próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, é irmão de Elizabeth Guedes, representante dos oligopólios educacionais como a Kroton e a Anhanguera. Essas empresas são reconhecidas pela busca de mais lucros, com olhar especial para as verbas públicas, por meio do abocanhamento de uma parcela ainda maior dos investimentos governamentais, como o FIES e o Prouni. Paulo Guedes se tornou ministro para servir ao mercado financeiro, para aumentar seus lucros e, com sua irmã e parceira, para privatizar a educação superior brasileira e agradar, com ganhos certos, as grandes corporações internacionais de capital aberto que atuam no Brasil, sem se importar com alunos, professores, ou as pesquisas que são fomentadas nas universidades federais.
 

Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo


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