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Falta de ações e descaso prejudicam a população brasileira


Sem ações efetivas para o enfrentamento da maior crise sanitária do século, o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) leva o Brasil à marca de mais de 440 mil mortes por Covid-19. Com a pandemia ainda descontrolada, sem medidas restritivas nacionais e sem vacinas para toda a população, as mortes de trabalhadores e trabalhadoras se multiplicam, além do abalo emocional das famílias, o rastro de destruição da renda, o aumento da miséria e o desamparo.
   
Um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que o Brasil ficou R$ 165,8 bilhões mais pobre devido as 398 mil mortes registradas entre março de 2020 e abril deste ano. Outra pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) acompanhou o impacto econômico das mortes de 301 mil idosos acima de 60 anos, onde a maioria são os únicos provedores de suas famílias. Esse número alarmante de mortes, em 13 meses de pandemia, fez com que R$ 3,8 bilhões fossem retirados de circulação da economia.

A pesquisadora do IPEA e especialista na terceira idade, Ana Amélia Camarano, vinha acompanhando o impacto da pandemia nas famílias que perderam seus idosos para a doença. Um estudo divulgado em agosto do ano passado já mostrava a tragédia econômica e social que se abateria sobre essas famílias.
 
O Boletim Emprego em Pauta 18, do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas do (Dieese), mostrou o aumento de 71,6% no número de desligamentos por mortes de trabalhadores celetistas, que passou de 13,2 mil para 22,6 mil, no comparativo entre os primeiros trimestres de 2020 e 2021. 

As categorias mais afetadas 

Uma das categorias mais afetadas pelos desligamentos por mortes, como mostrou o levantamento do Dieese, são os caminhoneiros de cargas não tóxicas. Das 1.188 atividades celetistas, as mortes entre os trabalhadores de transportes de carga e público teve um aumento de 110%, ''e mesmo não sendo o maior percentual de mortes em uma profissão, se comparar o número de trabalhadores envolvidos na atividade, os caminhoneiros são os mais afetados, 418 mortes dos profissionais do setor, no primeiro trimestre de 2020, e 880, em 2021'', explica a economista e técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Rosângela Vieira. 

Na linha de frente da pandemia, os profissionais ligados à atenção da saúde tiveram um aumento ainda maior: 75,9% - passando de 498 desligamentos para 876. Entre enfermeiros e médicos, a ampliação chegou a 116% e 204% respectivamente. O crescimento na educação foi de 106,7%; em transporte, armazenagem e Correios, 95,2%, e dos profissionais de informação o número foi bastante expressivo, chegando a 124,2%.

''Inaceitável a condução do governo frente à pandemia, que tem levado o Brasil ao aprofundamento das desigualdades sociais, com mais de 27 milhões de brasileiros e brasileiras para a linha da pobreza, com o aumento da fome e do desemprego'', denuncia a secretária de Saúde do Trabalhador da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Madalena Margarida da Silva.

 

Desligamento por mortes por estados

 

A crise e a falta de oxigênio que causou pânico em Manaus, no início do ano, colocou o Amazonas no topo do crescimento percentual de desligamentos – um aumento de 437,7%, passando de 114 mortes, no início de 2020, para 613 no mesmo período do ano. Em seguida estão Roraima (177,8%) e Rondônia (168,6%). Em São Paulo, o mais populoso estado do País, o encerramento de vínculos de trabalho por morte cresceu 76,4%, pulando de 4,5 mil para 7,9 mil.

A economista do Dieese explica que os números de desligamentos por mortes no período pesquisado não foram necessariamente por covid-19, mas é perceptível que este aumento está diretamente ligado ao período da pandemia. “Com a mudança de metodologia do Caged não há como comparar o número de desligamentos com os períodos anteriores, mas utilizando dados de janeiro de 2020 a março de 2021 e comparando trimestralmente, já surte o efeito significativo, pois estamos comparando um período sem pandemia (janeiro a março de 2020), com os trimestres restantes já com mortes por covid. A segunda onda pode ser percebida claramente no mês de março de 2021, que teve um pico absurdo de 88% em relação a fevereiro”, acrescenta Rosângela Vieira. “É possível mitigar os efeitos da pandemia e tomar as medidas sanitárias necessárias de cada categoria. Trazer esses dados pode ajudar a ter informações mais precisas sobre o número de contaminados”, conclui a economista do Dieese.  

Com base em informações do Portal de Transparência do Registro Civil, uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) avaliou a contribuição que seria dada pelos 398 mil brasileiros que morreram de covid-19 no período de 13 de março de 2020 até 30 de abril deste ano. Do total, 197,5 mil pessoas tinham de 20 a 69 anos e 200,5 mil tinham 70 anos ou mais.

Estes dados  evidenciam a necropolítica de Jair Bolsonaro teve impacto em todas as instâncias da vida dos trabalhadores, atingindo desde seus empregos até seus familiares. O governo federal, ainda hoje, segue com sua política de descaso para com a população, o que ocasionou milhões de infectados e milhares de mortos devido às complicações causadas pela Covid-19 por não possuir um planejamento firme de combate e enfrentamento à pandemia. A quebra da economia brasileira, que jogou milhões na linha da miséria, é também outra face desta necropolítica, e passa pela quse inexistência de políticas públicas auxiliares, como o auxílio emergencial, um valor ínfimo que, ainda por cima, foi reduzido ao invés de ampliado. Os trabalhadores brasileiros, mais uma vez, encontram-se jogados à sua própria sorte, enquanto os governantes ampliam seus projetos de entrega dos serviços públicos e aprofundam ainda mais a crise na qual se encontra o País.
 

Foto: Rafaela Felicciano / Metrópoles


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