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Constituinte do Chile: Guinada à esquerda ou levante popular?

No último dia 16 de maio, o Chile elegeu os representantes da Assembleia que irá escrever a nova Constituinte do País. Anteriormente, o Chile ainda se baseava na Constituição escrita no governo do ditador Augusto Pinochet. Desde 2019, o Chile vive uma revolução social, com manifestações pela criação da nova Constituição, além de exigir direitos básicos como educação. Os protestos, que se iniciaram de forma pacífica, eram, em sua maioria, compostos por jovens e estudantes, mas foram duramente reprimidos pelo governo de Sebastián Piñera.

É importante compreender essa mudança de posicionamento no Chile. Os direitos das mulheres somente foram conquistados no País anos depois do resto do mundo, a exemplo do direito ao divórcio, que somente foi garantido às chilenas nos anos 2000. A insatisfação com o governo Piñera e a desconfiança com os partidos de direita, aliados e defensores das políticas neoliberais, foi outro fator de suma importância para que grupos representantes de minorias fossem às urnas, apesar da participação popular nas eleições estar em queda nos últimos pleitos.

A formação da nova constituinte visa “enterrar” de vez a política neoliberal que foi majoritariamente imposta ao Chile durante a Ditadura Militar, e que permeia até hoje a vida dos chilenos. Enquanto as pesquisas mostravam que a direita e os conservadores dominariam os votos, os jovens, estudantes e outras minorias se mobilizaram e surpreenderam, comparecendo em peso às urnas e elegendo os chamados candidatos “independentes”, mulheres, indígenas etc. para formar a Assembleia. Com esta nova configuração, pautas dos grupos historicamente marginalizados pelo Estado chileno ganham espaço, concretizando não somente uma mudança de concepção política no eleitorado chileno. Além disso, das 155 cadeiras, 81 serão ocupadas por mulheres, além de 17 eleitos serem representantes indígenas, demonstrando a força das mudanças propostas pelas manifestações.

Apesar de ter um caráter progressista, é de suma importância perceber que esta ainda não é uma guinada à esquerda, mas o resultado de um levante popular. Sem perspectivas na política neoliberal dos partidos de direita que historicamente se permutam no poder, e também nos partidos de esquerda que não conseguiram dar as respostas necessárias à população, a formação da Constituinte é um aceno a políticas de defesa e contemplação das minorias em um Estado historicamente neoliberal, oriundo de uma ditadura que criou mecanismos que beneficiaram e ainda beneficiam a elite branca e rica. Este mesmo governo afundou o País em crises, e acabou com o sistema de educação pública – o Chile também não tem saúde pública e a assistência social é privada.

Com isso, é urgente a necessidade e a oportunidade de um partido de esquerda, para nortear os debates e manter aqueles que são descentralizados firmes dentro de uma política que crie mecanismos para barrar o neoliberalismo, fazendo com que as exigências da população sejam ouvidas, tornando esse movimento popular uma verdadeira virada à esquerda.
 

Foto: Reprodução / Twitter


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