Na última terça-feira, 8 de junho, uma ação policial no Complexo do Lins, zona norte do Rio de Janeiro, terminou com o assassinato de Kathleen Romeu, uma jovem negra, trabalhadora, de apenas 24 anos, que estava grávida do primeiro filho. O caso é mais uma demonstração da política de extermínio do Estado burguês, que coloca um “alvo” nas costas da população negra e periférica.
Em depoimento à imprensa, a mãe da vítima, Jaqueline Oliveira Lopes, afirmou que não há dúvidas que o disparo que matou a jovem veio da polícia. “Se a minha filha fosse morta por bandido eu não falaria nada com vocês porque eu sei que eu moro em um lugar que eu não poderia falar. Então ficaria na minha. Mas não foi. Foi a polícia que matou a minha filha. Foi a PM que tirou a minha vida, o meu sonho“, disse.
O assassinato de Kathleen, infelizmente, não é um fato isolado. Segundo dados do instituto Fogo Cruzado, nos últimos cinco anos, pelo menos 15 mulheres grávidas foram baleadas na Grande Rio. Além de Kathleen, outras sete mulheres não resistiram aos ferimentos e morreram. Dos 10 bebês que foram baleados enquanto ainda estavam na barriga de suas mães, só um sobreviveu. Como se vê, essa triste realidade se tornou corriqueira na vida da população preta, pobre e periférica.
Mesmo com a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como ADPF das Favelas, redigida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que restringe as operações policiais não urgentes durante a pandemia, o Estado continua realizando incursões nas periferias e exterminando a população preta e pobre que lá reside. A ADPF 635 foi criada após a morte do garoto João Pedro, assinado em casa durante uma operação policial em São Gonçalo, no ano passado. Em um ano de ADPF, os tiroteios caíram cerca de 23% em relação ao período anterior à vigência da medida. O número de pessoas baleadas caiu quase 30%. Mas a proporção de tiroteios com vítimas, que ocorrem majoritariamente em casos onde há agentes públicos de segurança, se manteve estável, o que mostra que o comportamento das polícias não mudou, apenas houve uma pequena redução na quantidade de atuações.
A matança da população preta e periférica durante a pandemia deixou ainda mais evidente que o Estado, que, teoricamente, deveria proteger e salvaguardar a vida da população, é o primeiro a buscar meios de extirpar a vida dessas pessoas. Os mecanismos criados pelo capitalismo para manter a opressão do homem sobre o homem exigem que uma parte da população seja privada de todo e qualquer direito, inclusive o direito à vida. O massacre do Jacarezinho e o assassinato de Kathleen e de João Pedro são apenas alguns exemplos da política higienista e genocida do Estado burguês para defender os interesses do capitalismo, o que é executada por seus órgãos repressores, em especial as polícias civil e militar. Apenas o fim do capitalismo e sua lógica de exploração são capazes de dar as respostas para o fim do genocídio negro que ocorre em todo o País.
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