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Nota sobre as eleições no Peru

O desenrolar das eleições presidenciais no Peru e a tentativa de um golpe contra a soberania da escolha da população através do voto precisam ser vistos com bastante preocupação. A ainda não proclamada vitória de Pedro Castillo nas eleições presidenciais, com 50,125% dos votos, sobre Keiko Fujimori, que obteve 49,875% dos votos válidos, é parte deste momento de crise aguda do capitalismo, em que a extrema-direita, que sempre esteve coligada aos interesses imperialistas na América Latina, dá provas cabais de sua incapacidade em responde às necessidades do povo. Pelo contrário, irá trabalhar para afundar, ainda mais, a população latino-americana em uma crise sem precedentes, visando a manutenção dos lucros de uma parcela ínfima de parasitas.

Já faz 20 dias que as  eleições ocorreram e, desde o momento em que Fujimori sofreu a virada de Castillo, denúncias da candidata contra a contagem dos votos começaram a surgir. Apesar de observadores internacionais e do próprio Tribunal Eleitoral peruano terem afirmado a idoneidade das eleições, a candidata direitista tenta criar uma narrativa de fraude de magnitude suficiente para alterar o resultado, pedindo a anulação de 200 mil cédulas eleitorais nas zonas mais pobres do País, regiões onde Castillo teve a maioria dos votos. Neste sábado, 26, o júri eleitoral do Peru retomou os trabalhos para determinar o ganhador das eleições após a descoberta de manobras para comprar magistrados e fazer a balança pender a favor de Keiko Fujimori, filha do seu ex-chefe. O magistrado Víctor Raúl Rodríguez se incorporou ao júri, acabando com a paralisação provocada pela saída de outro membro há três dias, o que impedia o avanço no lento processo para avaliar as impugnações de votos e proclamar o novo presidente. Ainda não há prazo determinado para a proclamação.

Além das tentativas da candidata derrotada, parte dos militares reservistas das Forças Armadas peruana também tentou manobrar o pleito. O presidente interino do Peru, Francisco Sagasti, rejeitou um pedido desse grupo para desconsiderar o resultado das eleições, sob alegação de supostas irregularidades. A carta,  entregue ao quartel-general das Forças Armadas, continha uma “lista de nomes” de militares reformados que solicitaram que as Forças Armadas agissem contra a Constituição, sugerindo que o governo teria violado a neutralidade das eleições presidenciais.

Nota-se que a polarização ocorrida durante as eleições presidenciais levou a um temor das alas direitistas de vários setores nacionais  que abre a possibilidade de um golpe contra a democracia peruana, com o apoio de alas militares ligadas ao Fujimorismo e ao imperialismo. A extrema-direita, derrotada nas vias legais, não se privará de usar todo e qualquer modo de ação para extorquir o poder, como ocorreu no Brasil nas eleições de 2014 e no impeachment, em 2016, contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. Outra manobra se verificaagora, com a série de modificações eleitorais solicitadas pelo presidente negacionista e genocida do Brasil, Jair Bolsonaro, como o retorno ao voto impresso. Isto mostra que a democracia burguesa é uma farsa, “facilmente” manobrada para atender aos interesses de quem detém o poder. 

 

Extrema-direita e as eleições no Brasil

 

Não é à toa que  nas eleições de 2018 Bolsonaro também levantou a suspeita de fraude eleitoral. Porém, segundo o Ministro do Superior Tribunal Eleitoral (TSE), Luiz Roberto Barroso, as provas de fraude nunca foram apresentadas. Com popularidade em declínio, o retorno ao voto impresso solicitado por Bolsonaro, e que está sendo debatido no Projeto de Emenda Constitucional (PEC) nº 135/2019, tem por propósito garantir o controle sobre o pleito ao estabelecer mais uma maneira da extrema-direita e do imperialismo manipularem as eleições, com a pecha de estarem criando o “voto auditável”, quando, na realidade, querem o “voto fraudável”. Não se trata de um “novo” mecanismo de auditoria, mas de intensificar o risco de fraude.

Bolsonaro é a expressão clássica da velha política da direita, e seu discurso negacionista não tem outro propósito além da polarização eleitoral e a desmoralização das mesmas estruturas eleitorais que o colocaram no poder. A cruzada incessante do presidente genocida pelo retorno ao voto impresso é o sintoma de que sua popularidade, marcada pelas Fake News e pelo antipetismo, dá sinais de que não será o suficiente para garantir sua manutenção como chefe de Estado no próximo pleito. Portanto, a estrutura golpista e fraudulenta deve ser montada e maquinada o quanto antes. 

A necropolítica bolsonarista, aliada aos interesses do imperialismo estadunidense, que durante a crise sanitária do coronavírus aumentou o número de pessoas na extrema pobreza, que hoje atinge a marca de 39,9 milhões de pessoas, e ainda jogou mais de 14,8 milhões de brasileiros no exército de desempregados no Brasil, deve ser combatida em todas as instâncias, sem perder de vista que a via eleitoral não pode ser encarada como um fim em si mesma, tampouco como um substituto para a luta real, nas ruas. A ascensão dos partidos de esquerda na América Latina deve ser acompanhada de profundas mudanças, que busquem o objetivo central da classe operária, que é a tomada do poder político. A luta de classes é a luta contra a exploração a qual somos submetidos todos os dias, a principal luta dos trabalhadores de todo o mundo.
 

Foto: Sebastian Castaneda / Reuters


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