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Frantz Fanon: sobre a Cultura Nacional

Frantz Omar Fanon, também conhecido como Ibrahim Frantz Fanon, foi um psiquiatra e filósofo político nascido em 1925, na Martinica, colônia francesa. Fanon, além de intelectual, foi um dos militantes políticos mais importantes da guerras de libertação África, juntando-se à Frente de Libertação Nacional da Argélia na Guerra de Independência da Argélia contra a França. Suas obras se tornaram influentes dentro do marxismo, servindo de inspiração para os movimentos de libertação nacional de vários países em relação à luta contra as mazelas do colonialismo e do imperialismo.

Neste breve resumo, falaremos sobre o quarto capítulo do livro “Os Condenados da Terra”, onde Fanon explica como se deve dar a formação de uma verdadeira cultura nacional.

 

Sobre a Cultura Nacional

 

Fanon começa o capítulo explicando que as gerações passadas fizeram tudo o que podiam para criar as bases da revolução, possibilitando o amadurecimento da luta. Guerrilhando com as armas que possuíam, seus ecos possibilitaram a confiança na vitória daqueles que se rebelaram.

Neste capítulo, Fanon busca analisar o problema da legitimidade da reivindicação de uma Nação. Coloca que na primeira fase da luta nacional, o colonialismo tenta esvaziar a reivindicação nacional através do economicismo e do desenvolvimento social, criando medidas espetaculares, frentes de trabalho para aproveitar os desempregados e atrasando a formação de uma consciência nacional.

Com isso, nos partidos, surgem os homens de cultura colonizados. Enquanto os homens políticos inscrevem sua ação na realidade material, os homens de cultura situam-se no quadro da história, ou seja, os intelectuais da forma que conhecemos, debruçam-se em analisar o passado e explica-lo. Fazendo a comparação deste com o intelectual colonizado, que responde agressivamente à agressão vinda da metrópole, o colonialismo quase não reagirá aos pensamentos desses homens de cultura, pois dentro do seu próprio seio, os intelectuais da metrópole já tinham ideias semelhantes.

Fanon busca entender a necessidade do aprofundamento histórico  na cultura anterior à colonização pelos intelectuais colonizados frente aos acontecimentos da guerra de libertação. Ao invés de engradecer a história atual de seu povo oprimido, diminuído pela ação colonial e imerso em barbárie, homem da cultura busca rememorar no passado e encontram uma cultura que mostra a dignidade, a glória e a solenidade de seu povo. A cultura nacional passada não só reabilita, como também serve de justificativa para uma cultura nacional futura.

Para o colonialismo, não basta apenas impor sua lei ao presente (e ao futuro) do país colonizado – ele também se volta ao passado da colônia, deturpando, corrompendo e desfigurando. Essa tarefa de desvalorização da história da colônia tem uma função dialética com a imposição da nova cultura, a cultura da metrópole.

Nisso, Fanon discorre sobre a importância de o intelectual colonizado mergulhar não na cultura nacional, mas na cultura continental. O colonialismo não extirpou apenas a cultura da Argélia, mas de todo o continente africano e americano. Em nenhum momento o colonialismo cessa de afirmar que o negro é um selvagem, sem distinguir a nacionalidade deste negro. Para o colonialismo, a África era o “continente dos selvagens”, uma região infestada de fanatismo e superstições, fadada ao desprezo, atingida pela maldição de Deus. Já a Europa era o “Berço da humanidade”, o “centro do mundo”, o “pilar do conhecimento”. Por isso, faz-se necessária a afirmação de uma cultura africana, não de uma cultura nigeriana ou angolana.

De acordo com Frantz Fanon, o negro nunca foi tão negro como a partir do instante em que esteve sob o domínio do branco. É quando o intelectual colonizado percebe que para enfrentar esta oposição criada pelos europeus, de sua cultura contra as inculturas, se faz necessária a criação de uma cultura negra, que irá transcender o continente e dar as respostas, num primeiro momento, ao afirmar linhas de força idênticas e laços comuns.

Porém, existem diferenças entre os problemas existenciais entre os negros espalhados pelo mundo, sendo este o primeiro limite nos fenômenos que justificam a historicização dos homens. Fanon fala que se a tarefa do intelectual colonizado é historicamente limitada, a transposição deste limite deve se dar na sustentação, na legitimação das ações dos homens políticos. Para se livrar da supremacia branca, o intelectual vê a necessidade cada vez maior de regressar às raízes bárbaras de seu povo e se perder nela. Nesta etapa da consciência, o intelectual retornará às posições passionais e manifestará uma psicologia dominada por uma sensibilidade, uma irritabilidade, uma inquietação que explica esse processo de libertação de seu povo. Neste ponto, o intelectual se livra dos “germes da podridão” e encontra, enfim, o sangue vermelho de seu povo. É um combate doloroso onde o músculo deve substituir o conceito, a teoria deve dar lugar à ação.

Fanon explica, em três tempos, essa evolução da cultura nacional. Na primeira etapa, o intelectual colonizado prova que assimilou a cultura do colono, suas obras e criações correspondem às de seus colegas metropolitanos e nada são se não correntes da metrópole. Numa segunda etapa, o colonizado sofre um abalo e recorda  suas raízes culturais. Essa aproximação do intelectual com seu povo faz com que ele recorde de episódios de infância, lendas e outros produtos do passado, carregados de alegorias e humor, a chamada Literatura de pré-combate. Na terceira etapa, chamada de combate, o colonizado, depois de se perder no povo, vai sacudi-lo. Sua função principal é incitar o povo e não mais mantê-lo em letargia. Nesta etapa, os homens e mulheres falam de suas experiências no combate pela libertação, nas prisões, no exílio. Tornam-se porta-vozes do povo, mas não são mais apenas vozes, como também atos.

Lutar pela cultura nacional é, essencialmente, lutar pela libertação nacional, matriz material pela qual a cultura se faz possível. Não há um combate cultural que não esteja ao lado do combate de libertação, pois a libertação do povo passa, também, pela libertação de sua cultura. A cultura nacional toma corpo e consciência no curso desses combates, na cadeia, diante da guilhotina, nas delegacias e quartéis destruídos. A guerra contra o colonialismo, em todos os campos, é o que fomenta esse grito de liberdade da cultura de um povo, e é através destes gritos de liberdade que aqueles intelectuais irão agitar as massas e dar vigor a elas dentro da luta organizada pela libertação da nação. 
 


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