O racismo e o preconceito, alinhados ao machismo, são estruturas fundamentais da sociedade capitalista. A luta por igualdade de oportunidades tem grandes barreiras que, até então, são praticamente instransponíveis para a população negra, principalmente para as mulheres, o que nos coloca a necessidade de estabelecer uma verdadeira guerra por cada direito democrático, usando essa luta para fazer evoluir a consciência de classe, que visa a tomada de poder pela classe trabalhadora. Nesse sentido, mulheres negras organizadas politicamente conseguem mais facilmente romper o ostracismo social, em que assumir a cor da pele para muitas chega a ser motivo de vergonha.
A luta pela educação pública, por direitos e salários iguais é fundamental para enfrentar os desafios postos por uma sociedade embranquecida, dividida em classe, que, para oprimir uma parcela da população, chega até mesmo a retirar sua condição humana.
Mesmo que haja ainda um longo caminho a ser percorrido, as lutas dos movimentos negros e a pressão popular trouxeram avanços significativos para o fim da discriminação. Um deles foi o aumento da participação da população negra nas universidades. Segundo uma análise de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua Anual, feita pelos economistas Ana Luiza Matos de Oliveira, professora da Flacso Brasil, e Arthur Welle, doutorando na Unicamp, em 2019, as mulheres negras foram o grupo mais numeroso das instituições de ensino superior públicas, representando 27% dos estudantes. Já outro levantamento, feito pelo site Quero Bolsa, a partir dos dados do IBGE, mostrou que entre os anos 2010 e 2019, o número de alunos negros no ensino superior cresceu quase 400%, chegando a 38,15% do total de matriculados – não esquecendo que a população negra representa 56% da população brasileira.
Apesar de muito importante, sabemos que a entrada dos negros nas universidades, por si só, não quebra as estruturas da sociedade capitalista. É preciso avançar em outras esferas como, por exemplo, a permanência da população negra e pobre nesses espaços. Uma matéria publicada no site Agência Brasil, afirma que, de acordo com a pesquisadora Tatiana Dias Silva, autora de estudo sobre ação afirmativa e população negra na educação superior, publicado em agosto [de 2020] pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), “36% dos jovens brancos entre 18 e 24 anos estão estudando ou terminaram sua graduação. Entre pretos e pardos, esse percentual cai pela metade: 18%”. A matéria também mostra que, a partir da base de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “o estudo de Tatiana Silva contabiliza que, em 2017, 22,9% de pessoas brancas com mais de 25 anos tinham curso superior completo. A proporção de negros com a mesma escolaridade era de 9,3%”. Já uma pesquisa recente do INSPER (Instituição de Ensino Superior e Pesquisas), publicada no jornal Folha de São Paulo, afirma que “mesmo entre os que cursaram o ensino superior público, um homem branco chega a ganhar em média quase 160% a mais do que uma mulher negra”.
A luta pelo direito à educação é parte das lutas democráticas, que passam pelo enfrentamento ao racismo, sexismo e todo tipo de discriminação, e que serão travadas de modo mais eficiente se houver a aliança entre o operariado, o povo negro e as mulheres, afinal de contas, a luta de classe, raça e gênero são sobrepostas. Toda opressão tem origem na divisão classista da sociedade, e a população negra tem predominante papel de sujeito da História de luta da classe trabalhadora.
A luta intransigente pela educação pública, gratuita e de qualidade para todos é fundamental neste momento em que o projeto entreguista do governo federal, pautado na destruição do Estado brasileiro, ameaça todas as conquistas democráticas. Acabar com as universidades públicas, por exemplo, é retirar da classe trabalhadora, formada majoritariamente pela população negra, o direito à educação e à democratização do conhecimento produzido pela humanidade, que instrumentaliza o oprimido em sua luta pela emancipação.
foto: Arquivo Agência Brasil/Marcello Casal Jr/Reprodução