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Opressão, pobreza e adoecimento: os trabalhadores pagam a conta da crise

As mudanças trazidas ao mundo do trabalho da maioria dos servidores públicos durante a pandemia da Covid-19 aprofundaram um cenário que já estava bastante comprometido pelas atuais políticas de sucateamento dos serviços públicos. A alteração do cotidiano e dos hábitos, as novas exigências de segurança sanitária e o temor da contaminação, por si só, são fatores de estresse para os trabalhadores. No entanto, a sobrecarga de trabalho, o risco de desemprego e a negligência dos poderes públicos em relação à proteção da população potencializaram o problema, que tem sido causa de maior adoecimento em muitas categorias.

De acordo com a dirigente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel), Cleide Donária, antes mesmo da pandemia, os profissionais da saúde sofriam com o déficit de pessoal em todos os espaços de atendimento: atenção básica, unidades de urgência, hospitais públicos e privados. A pandemia escancarou o problema para toda a sociedade. Faltaram profissionais com experiência de urgência e emergência até mesmo para contratação. O resultado foi a sobrecarga desses trabalhadores que, desvalorizados, viram suas já precárias condições de trabalho piorarem pela falta de EPIs, por exemplo, que os obrigava a ficar longos períodos sem se alimentar ou ir ao banheiro para não precisar trocar os equipamentos. O risco de contaminações variadas aumentou, bem como os afastamentos. A taxa de mortes em decorrência da Covid-19 dos profissionais da saúde no Brasil foi a maior do mundo.
 
O adoecimento mental, por sua vez, tem sido uma sequela desastrosa dessa situação, uma vez que o atendimento ao público se tornou mais desgastante devido ao temor da contaminação e a dificuldade em lidar com a população desinformada e amedrontada diante da pandemia. Entre as mulheres, os baixos salários, que as obrigam a ter mais de um emprego, e a tripla jornada imposta pelas tarefas domésticas fazem o perigo de adoecimento mental aumentar.

Isso sem falar na necessidade de se aglomerar por horas nos transportes coletivos, uma vez que a maioria desses trabalhadores mora nas periferias das grandes cidades e os maiores hospitais se situam nas regiões centrais das mesmas. Muitos optaram em abandonar um dos empregos e não retornar para casa para poder fazer horas extras em um mesmo local.
Em Belo Horizonte, de acordo com o Sindibel, servidores públicos que trabalham nas ruas, como os dos Centros de Controle de Zoonoses, são obrigados a percorrem longas distâncias e, nas fiscalizações sanitárias, também houve sobrecarga de trabalho, uma vez que na capital mineira,  assim como na maioria das cidades do Brasil, não se realizam concursos há anos para preenchimento de cargos nesses setores. Os já combalidos trabalhadores existentes tiveram que enfrentar o risco da contaminação e ampliar os números de visitas para entrega de máscaras, agendamentos de consultas, busca ativa de pacientes, campanhas de vacinação etc.

Sem possibilidade de fazer o isolamento, os que já tinham problemas de saúde foram pressionados a trabalhar em ritmo acelerado, em atividades que exigem deslocamentos e muito esforço físico. Os gestores dos diversos setores aumentaram o assédio e a pressão sobre metas, enquanto os médicos do trabalho estão orientados a não favorecer o remanejamento dos adoecidos, nem conceder licenças saúdes para os que necessitam. 

Para complicar a situação da saúde mental dos trabalhadores responsáveis pela fiscalização sanitária, a má gestão pública, no que se refere à pandemia, transformou-os em alvos de ataques de comerciantes que se recusavam a cumprir as exigências sanitárias. Muitos sofreram, inclusive, ameaças de morte.

Em relação aos professores, principalmente as mulheres, o “home-office”, imposto de maneira desorganizada, transformou-se em fator de adoecimento ao adicionar ao trabalho escolar, as tarefas domésticas rotineiras que se multiplicaram com as aulas em casa das crianças. Os professores da educação básica estão, junto com os profissionais da Saúde, entre as categorias que mais adoecem em consequência das más condições de trabalho. Quando o ônus da operacionalização do trabalho à distância recaiu sobre suas costas, essa situação se agravou.  
As constantes perdas de direitos, que tanto servidores públicos, como trabalhadores das estatais e da iniciativa privada vêm sofrendo aumentam a ameaça de desemprego e o empobrecimento, o que provoca o adoecimento físico e mental na classe trabalhadora. A política de sucateamento para privatização do SUS e o retrocesso das políticas de Saúde Mental jogarão a população no abandono. É preciso organizar a luta em defesa do SUS, dos serviços públicos que garantem o atendimento às necessidades básicas da população; do emprego com direitos. 

Foto: coren-es


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