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Varginha: mais uma chacina

Na madrugada do último sábado, dia 31 de outubro, uma ação das polícias Militar e Rodoviária Federal, do estado de Minas Gerais, deixou 25 mortos na cidade de Varginha. Como sempre, a desculpa é o suposto combate ao crime, mas o que vemos é a matança desenfreada, a pena de morte imposta na prática, sem qualquer julgamento, e tendo sempre como alvo central a população preta e pobre.

Segundo informações oficiais, o objetivo da operação era “desmantelar” uma quadrilha de assalto a bancos que estava na cidade. Ocorre que na primeira abordagem foram mortas 18 pessoas e apreendidos armas e veículos supostamente roubados, informação que foi contestada. Segundo o jornalista do Brasil 247, Joaquim de Carvalho, os carros eram quentes, não haviam sido roubados. Em uma segunda operação, ocorrida em uma chácara, houve troca de tiros com a PM e sete pessoas foram mortas, inclusive o caseiro. Nenhum policial foi morto ou ferido. Carvalho questiona porque não deixaram um único sobrevivente e sugere que tenha sido queima de arquivo, uma vez que na investigação sobre o assalto a bancos em Botucatu, no ano passado, a Polícia teria encontrado munição de lotes pertencentes à Polícia Civil de SP e coletes à prova de bala de empresa de segurança.

O Ministério Público de Minas de Gerais, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa investigam se houve excesso por parte da Polícia. Não é preciso esperar por investigações quando se sabe que o modus operandi do braço armado do Estado burguês é matar antes de render, sentenciar sem julgamento. Isso explica por que os corpos foram removidos da cena do crime antes que se iniciassem as investigações. 

A chacina foi elogiada pelo filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, em suas redes sociais. Enquanto isso, aqueles que denunciam a ação, como o jornalista da Fórum, Marcelo Hailer, vêm sendo atacados por grupos bolsonaristas pelo simples fato de denunciar o massacre. Também a deputada estadual Andréia de Jesus (PSOL-MG) sofreu ameaças de morte após a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, da qual ela é presidenta, acolher a denúncia da comunidade e tornar público o ocorrido em Varginha. 

A polícia brasileira, a que mais mata no mundo, bateu recordes de assassinatos em 2020, em plena pandemia. Os alvos preferenciais estão entre a juventude pobre e preta das periferias, cujos direitos legais estão apenas no papel. Em junho deste ano, a Polícia Civil do Rio de Janeiro colocou sob sigilo, por cinco anos, as informações sobre todas as operações policiais da corporação realizadas durante a pandemia, a partir de 5 de junho do ano passado, incluindo a da favela do Jacarezinho, considerada a incursão mais letal da história do Rio de Janeiro. Ocorrida em maio deste ano, essa matança realizada pela Polícia Civil terminou com 28 mortos. O objetivo do sigilo é impedir qualquer apuração das evidentes violações dos direitos humanos ou, em outras palavras, “autorizar”, na prática, que os policiais exterminem a população preta e periférica.
 
O pretexto de combate ao crime organizado é utilizado para justificar as ações arbitrárias e ilegais da Polícia, que age diferente quando as “quadrilhas” estão em condomínios de luxo. Uma das principais bandeiras de Bolsonaro, desde a campanha presidencial de 2018, é a da ampliação do excludente de ilicitude, que dará à policiais uma "retaguarda jurídica" durante operações, evitando que respondam judicialmente quando, por exemplo, matarem em serviço. 

Quando se tem um governo à serviço dos interesses dos grandes capitalistas, que promoveu o genocídio de mais de 600 mil mortes na pandemia, fazendo piada do sofrimento do povo, fica fácil compreender que as vítimas da cartilha que prega que a Polícia mate sem se preocupar com as consequências estarão, sempre, na classe trabalhadora.

Foto: Reprodução EPTV


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