Para marcar o Dia Internacional pela Abolição da Escravatura, celebrado em 2 de dezembro, relatores independentes em direitos humanos, nomeados pela Conselho de Direitos Humanos da ONU, emitiram um alerta sobre o alto risco que mulheres e crianças correm de serem empurradas para as formas contemporâneas de escravidão.
Dados do relatório indicam que 1 em cada 130 mulheres e meninas está sujeita a formas contemporâneas de escravidão, como casamento infantil e forçado, servidão doméstica, trabalho forçado e servidão por dívida. Para os especialistas independentes, os desafios globais como a COVID-19, as mudanças climáticas e os conflitos armados aumentam as vulnerabilidades já existentes. Segundo eles, as desigualdades de gênero estão no cerne das formas contemporâneas de escravidão. A pesquisa observa, também, que essas práticas são alimentadas por formas cruzadas de discriminação, como raça, status social e econômico, idade, deficiência, orientação sexual e status de migração, entre outros.
Na América Latina, o cenário foi exposto em um relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, Cepal, que mostrou que o ano de 2020 significou uma década de retrocesso em matéria trabalhista para as mulheres. Isto porque elas são a maioria nas profissões com maior precarização e risco de destruição de empregos, como o comércio, a hotelaria, a indústria e o serviço doméstico, além de terem escasso acesso ao crédito para manter ou recuperar negócios.
Já no Brasil, a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Governo Federal, divulgada pelo jornal Valor Econômico na semana passada, aponta que entre os 480,3 mil trabalhos formais que Brasil perdeu no primeiro ano de pandemia, 96,4% das demissões foram de mulheres.
Para o capitalismo, momentos de crise são momentos de garantir reserva de mão de obra para a continuidade de exploração do trabalho. É de praxe que essa reserva tenha gênero e cor bem definidos. A emancipação feminina nunca interessou aos capitalistas que lucram fortemente com todo tipo de submissão presente no interior da classe trabalhadora.
Com o aprofundamento da crise capitalista, fica a cada dia mais evidente que o fim da opressão contra a mulher não depende de mudanças comportamentais, como mudar a linguagem, e nem de uma luta isolada. A mulher, seu corpo e sua vida estão à mercê desse sistema controlado pelo Estado burguês por meio de suas instituições e de seu aparato repressor. Todos os direitos democráticos que as mulheres alcançaram até hoje são frutos das suas lutas organizadas contra a opressão e, somente o fortalecimento dessa luta, unificada à luta maior da classe trabalhadora contra o sistema, poderá proporcionar uma mudança social real, que impeça os retrocessos sociais em tempos de crise.
Assim, reivindicações como creches públicas, que atendam 100% da população; restaurantes públicos; lavanderias; inserção da mulher no processo de trabalho; saúde; educação públicas etc. devem ser parte fundamental das lutas pela emancipação da classe trabalhadora.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil