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Pressão estadunidense é o que está por trás da ação militar na Ucrânia

Segundo o portal Sputnik, Rússia e Ucrânia se reuniram na última segunda-feira, 28/02, pela primeira vez desde o início da operação especial militar russa, na última quinta-feira (24). O encontro ocorreu em Belarus, país do Leste Europeu. Para o assessor do Gabinete do Presidente ucraniano, Mikhail Podolyak, a principal meta das negociações era a questão do cessar-fogo no território da Ucrânia. Ele afirmou que as delegações terminaram as conversações e vão partir para suas capitais para consultas antes de uma segunda rodada, que deve ocorrer nos próximos dias, na fronteira entre Belarus e Polônia.

No mesmo dia, em conversa por telefone com o presidente da França, Emmanuel Macron, o presidente da Rússia,  Vladmir Putin, detalhou que um acordo envolvendo a situação na Ucrânia só será viável se as legítimas questões de segurança apresentadas pela Rússia forem levadas em consideração. Essas questões envolvem o reconhecimento da soberania russa sobre a Crimeia, a desmilitarização e desnazificação do Estado ucraniano e a garantia de que a Ucrânia se manterá com status de neutralidade, ou seja, não se torne membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN, uma aliança militar criada em 1949, no contexto da Guerra Fria, cujo objetivo  era evitar a expansão da ex-União Soviética, que deixou de existir em 1989.

A pressão dos EUA e da União Europeia para que a Ucrânia ingresse na OTAN, que historicamente atua para manter o cerco militar à Rússia, reforçou os argumentos de Putin sobre as intenções políticas e econômicas das potências que controlam a organização em seu território. Desde a “Revolução Colorida de 2014”, característica intervenção de George Soros, o investidor e magnata húngaro-americano que lucra com derrubada de governos não alinhados aos interesses econômicos dos Estados Unidos no mundo, a Ucrânia se tornou uma colônia da União Europeia, do FMI e dos Estados Unidos. O atual presidente ucraniano Volodymir Zelensky, de extrema-direita, é um fantoche da OTAN, e atua para fomentar as dissidências entre as regiões pró-Rússia no País, como a Criméia, estratégica por ser um acesso ao Mediterrâneo para a força naval russa.

O governo russo diz que os ataques na região de Donbass, que tiveram início após um pedido de assistência feito pelas recém-reconhecidas repúblicas populares de Lugansk e Donetsk, têm como objetivo desmilitarizar a Ucrânia e combater a presença crescente de neonazistas no País, garantindo assim a segurança da região de Donbass e da Rússia.

Na tentativa de ampliar uma narrativa anti-Rússia no mundo, há meses as potências ocidentais, cujo maior porta-voz é a imprensa corporativa dos EUA, têm denunciado as intenções de Putin em “invadir” a Ucrânia. O líder russo negou por várias vezes essa suposta intenção. No entanto, a imprensa ocidental oculta a crescente pressão que as potências ligadas à OTAN fazem nas fronteiras russas, com objetivo claro de destruir de vez a força econômica do País, consolidada pela aliança com a China. Obviamente que a imprensa da América Latina, colonizada pelos EUA, não poderia agir diferente.

A decisão da Rússia em iniciar a ação militar na Ucrânia no último dia 24/02 teve como resposta da OTAN a mobilização imediata da chamada Força de Ação Rápida, cerca de 40.000 homens, com a expansão do território de guerra. França, Grã-Bretanha, Canadá e Estados Unidos implantaram novas forças militares na Polônia, Romênia e nos países bálticos. Mais uma vez, os fatos, parcialmente revelados pela imprensa, criaram o grande espetáculo midiático para “demonizar” os supostos “inimigos” do Ocidente. Imagens chocantes e discursos inflamados contra a violência dos ataques tomaram conta de corações e mentes dos trabalhadores do mundo, que, compreensivelmente, desconhecem a realidade do conflito e temem uma guerra de proporções inimagináveis diante do poderio bélico nuclear das grandes potências envolvidas.

Como também é historicamente compreensível, parte da esquerda brasileira e latino-americana, também colonizada pela ideologia burguesa pró-Estados Unidos, imediatamente após o início da operação russa na Ucrânia, saiu a postos para “demonizar” Putin em nome da soberania da Ucrânia. No Brasil, grupos como PSTU, MRT, PCB etc., argumentando preocupação classista, negaram totalmente o marxismo e a teoria revolucionária de Lenin para debater a possibilidade da “paz” e da soberania nacional no mundo controlado pelo sistema capitalista, que tem sua base nas guerras imperialistas para dominação de territórios e subjugação de nações e povos. Pautada pela imprensa burguesa, essa esquerda “pacifista” ignora as ações violentas que o ocidente promoveu na Ucrânia nos últimos oito anos em que infiltrou no País a guerra híbrida, com objetivo de manter um governo sob seu controle, ainda que esse governo seja de extrema-direita, ainda que os grupos nazistas cresçam no País, financiados pela CIA.

Vale lembrar que Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria, para ficar nos exemplos mais recentes, foram invadidos militarmente pelos Estados Unidos e União Europeia, com pretextos da mesma ordem: “restabelecer a democracia e salvar o povo de um regime autoritário” e estas invasões não foram abertamente condenadas por esses grupos da esquerda pacifista que, no Brasil, apoiaram o golpe contra o governo de Dilma Rousseff, do PT, saindo às ruas com a palavra de ordem “Fora Todos”. O grande impasse desta vez é que, em primeiro lugar, os Estados Unidos, em crise, não se mostram capazes de enfrentar militarmente a Rússia, sem que isso possa significar sua derrocada final. Em segundo lugar, que o regime autoritário e violento contra o povo já está instalado na Ucrânia, por ação da CIA e da OTAN. Ou seja, a política do “Fora Todos” que até hoje não se mostrou favorável aos trabalhadores, torna-se, no atual conflito, ainda mais confusa e favorável ao imperialismo dos Estados Unidos.

Diante desse impasse, a esquerda pequeno-burguesa se perde em análises moralistas e antimarxistas. Por ocasião do Tratado de Brest-Litovsky, que permitiu a saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial e a continuidade da Revolução de 1917, Leon Trotsky admitiu que “os mapas de guerra se modificam e os povos continuam”. No entanto, o que o líder do exército vermelho debatia era a verdade, ou a necessidade prática, de um “tratado de paz” que ia muito além de uma demagógica existência pacífica entre as nações. E sobre a questão da autodeterminação dos povos, Trotsky concluiu: “nenhuma nação é independente enquanto estiver ocupada e possuir apenas uma administração cujo título de governo está na presença de tropas estrangeiras”. E, para legitimar o objetivo revolucionário contido no tratado, ele estabeleceu uma distinção entre uma força surgida dentro de um País, para determinar seu destino, e a força vinda de fora, que lhe impõe sua vontade.

Além do mais, Putin nunca negou sua aspiração em integrar a Rússia ao mercado capitalista mundial. Trata-se, sem sombras de dúvidas, de um governo de direita. Portanto, o debate levantado pela esquerda pacifista sobre sua “traição” aos trabalhadores não tem fundamento real, pois o capitalismo é um sistema baseado na exploração de uma classe sobre a outra e não há, nem na Rússia atual, nem em lugar algum do mundo, um movimento revolucionário capaz de unificar a classe trabalhadora além das fronteiras nacionais. 

No capitalismo, a classe trabalhadora paga o preço da violência da guerra, assim como paga o preço da violenta exploração em supostos “tempos de paz”. Cientes da total inviabilidade de uma saída pacífica para a atual crise econômica, que envolve disputas geopolíticas, o que está colocado para a Rússia é  que não existe uma saída além de sua autodefesa. Assim como não existe a mínima possibilidade de que o enfraquecimento da Rússia pela ação do Ocidente favoreça a classe trabalhadora de qualquer lugar do mundo. Demonizar a Rússia nesse momento é, simplesmente, se posicionar em favor do imperialismo dos Estados Unidos, que jamais permitiu a autodeterminação de nenhum povo que lutasse por ela, contra seus interesses.

As guerras imperialistas não são de interesse da classe operária. Tratam-se de disputas de poder e controle econômicos por setores da burguesia mundial. No entanto, é necessário compreender os fatos para além do que a mídia ocidental apresenta,  buscando, com tal compreensão, cumprir a tarefa de elevar a consciência de classe das massas trabalhadoras. A agressividade da OTAN, a militarização e nazificação da Ucrânia foram provocações dos Estados Unidos e da União Europeia que exigiram a resposta da Rússia. 
 

Foto: REUTERS/Yves Herman


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