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No capitalismo, corrupção é instrumento de barganha política

Enquanto cria auxílios com duração até dezembro deste ano e joga verbas milionárias na imprensa empresarial para se preparar para a reeleição, o governo de Jair Bolsonaro (PL) coloca em ação a mais perversa política neoliberal contra a soberania nacional e os direitos dos trabalhadores. As constantes denúncias da corrupção inerentes a este governo, que elevou ao poder a estrutura miliciana construída a partir da atuação de sua família na política do Rio de Janeiro, têm sido utilizadas como instrumentos de distracionismos e de barganha da imprensa corporativa burguesa.

É o caso, por exemplo, das denúncias contra o presidente da Caixa, Pedro Guimarães. A imprensa burguesa se empenhou, acertadamente, nas sérias denúncias de assédio moral e sexual contra Guimarães envolvendo subordinadas. Contudo, “esqueceram” e nem de longe deram o mesmo destaque aos prejuízos da Lei Complementar nº 194, publicada em final de junho, destinada a limitar em até 18% as alíquotas do ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte público, que acarretarão perdas de mais de R$ 20 bilhões apenas na área da educação pública dos estados, municípios e Distrito Federal, sem contar os investimentos e custeios na saúde, segurança pública e demais áreas sociais. Ainda que o comportamento do ex-presidente da Caixa seja uma demonstração da misoginia e do machismo que caracterizam esse governo, o problema é passível de ser individualizado e sua exoneração pode aparentar uma solução. Já o corte de recursos para áreas essenciais de atendimento à população tem caráter perene e representa a concretização de uma política de destruição dos serviços públicos, que condenará gerações ao abandono estatal.

A tática de criar “cortinas de fumaça” com temas extremamente sério tem sido uma constante no governo. Sempre que o governo está prestes a impor um ataque violento contra o direito dos trabalhadores e/ou a soberania nacional do povo brasileiro, denúncias laterais, geralmente com temas extremamente sensíveis, como é o caso de denúncias de assédio moral ou casos de corrupção, como o escândalo da compra de leite condensado, de medicamentos para disfunção erétil e próteses penianas para o Exército etc., viram o foco da opinião pública. Já o “outro” assunto é colocado para “debaixo do tapete”.

Para a imprensa empresarial, o “agro é pop” e, em nome dos interesses do agronegócio, ela esconde o estrangulamento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por exemplo, que irá afetar drasticamente a agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. As restrições ao apoio técnico da empresa aos médios e pequenos agricultores estão aliadas ao avanço do projeto que tenciona colocar a estrutura de pesquisadores e técnicos da empresa pública para trabalhar em projetos propostos e pagos pelo agronegócio. A entrega dos campos do pré-sal e a venda da Eletrobras, repleta de irregularidades, trarão prejuízos incomensuráveis à soberania nacional e afetarão a vida do povo com o aumento de tarifas e preços. No entanto, a imprensa empresarial, porta-voz dos interesses privatistas, se cala diante desses ataques e mantém o foco nas denúncias de corrupção, não para derrubar o governo, mas para aumentar seu poder de barganha com o mesmo.

A tática dá resultados. Jair Bolsonaro (PL) aumentou em 75% os gastos com publicidade na Rede Globo neste ano. No primeiro semestre do ano passado, a Globo recebeu R$ 6,5 milhões em valores líquidos para veicular materiais publicitários do governo. No mesmo período deste ano, o valor aumentou para R$ 11,4 milhões (75%), segundo dados da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência (Secom).

Juntas, Globo, SBT, Rede TV, Record e Band receberam R$ 33 milhões no primeiro semestre e o montante destinado à TV Globo nesses primeiros seis meses do ano superou o pago à Record e à SBT, emissoras próximas do presidente Jair Bolsonaro.

Os trabalhadores não podem se iludir com as manipulações da burguesia que derrubou o governo do PT para tentar destruir de vez qualquer possibilidade de governos populares no Brasil. Bolsonaro chegou ao poder e nele permaneceu porque, em primeiro lugar, conseguiu impor a cartilha de ataques ao qual foi colocado no poder (intensificou a reforma trabalhista, concluiu processos de privatizações, impôs PEC’s e PL’s retirando direitos, impôs a carteira verde e amarela etc.), e, em segundo, porque a burguesia não consegue construir uma alternativa eleitoral que derrote a vontade popular de eleger Lula. Com a máquina estatal nas mãos, Bolsonaro poderá se reeleger caso não haja uma verdadeira mobilização dos trabalhadores contra o conjunto de sua política, que atende aos interesses da grande burguesia ligada ao imperialismo. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Nº 01/2022, chamada de PEC do Desespero, que autoriza a elevação dos gastos assistenciais do governo em período eleitoral, em cerca de R$ 41,25 bilhões, pode ser aprovada ainda nesta semana pela Câmara dos Deputados. Com o “jabá” da imprensa garantido, ele terá margem de manobra bastante favorável.

É preciso organizar os trabalhadores contra a destruição dos serviços públicos e da soberania nacional; contra a fome e a carestia; contra os ataques aos direitos trabalhistas e sociais. Fora Bolsonaro e todo o seu governo!
 


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