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UNESP - Marília: funcionários e estudantes lutam por direitos

Na manhã fria da última quinta-feira, 18 de maio, às 5h30, um grupo de alunos de diferentes cursos da Faculdade de Filosofia e Ciência do Campus de Marília da Universidade Estadual Paulista – UNESP, se reuniu em frente aos portões da instituição com o intuito de formar um piquete, em apoio à paralisação dos funcionários e em resposta ao não atendimento de suas demandas em relação ao restaurante universitário.

Na noite anterior, o movimento estudantil realizou uma assembleia a fim de mobilizar os estudantes em favor das pautas de revitalização do restaurante universitário com a volta do “bandejão”, para que todos os discentes, sendo eles de graduação ou pós-graduação, possam ter acesso a uma alimentação adequada. Além disso, objetivavam fortalecer a união de trabalhadores e estudantes, apoiando a greve dos funcionários.

Os funcionários reivindicam a equiparação salarial entre o que hoje é conhecido como “as universidades irmãs”, um trio composto pela USP, UNICAMP e UNESP. Os trabalhadores da última são os que ganham menos para realizar o mesmo trabalho, o que gerou sua revolta. A paralisação ocorreu no dia em que estava marcada a reunião entre o Conselho de Reitores das Universidades Paulistas e o Fórum das Seis, que aglutina os docentes, funcionários e estudantes dessas universidades, por meio de suas respectivas entidades, para a primeira rodada de negociação da data-base de 2023. Na reunião, realizada na tarde do dia 18, foi proposto o reajuste salarial de 10.51%, a partir de maio de 2023, para docentes e servidores técnico-administrativos das Universidades Estaduais Paulistas. Uma nova reunião deve ocorrer nesta semana.

Já os estudantes, cuja alimentação vendida no restaurante universitário é vital para sua permanência no ensino superior, têm suas próprias demandas. Atualmente, apenas alunos de graduação podem usufruir do R.U e estudantes de pós-graduação, funcionários e visitantes não têm permissão. Além disso, desde a pandemia, com o pretexto de seguir um rigoroso código de segurança, na UNESP de Marilia a comida não é mais produzida nas dependências da cozinha do restaurante universitário, mas vem de uma empresa terceirizada, chamada MR ALIMENTOS, que transporta as marmitas até a universidade. Um incidente específico demonstra um dos problemas dessa terceirização: após constatarem que um dos componentes da refeição, uma hortaliça, estava estragada, todas as marmitas foram descartadas e os discentes foram avisados por e-mail que estariam sem refeição no dia.

Sob forte insegurança alimentar, os estudantes vêm há algum tempo pressionando a direção do Campus pela volta do bandejão, mas a falta de organização centralizada do movimento estudantil, somada ao desinteresse da diretoria atual, não gerou resultados até o momento, com exceção de uma pequena extensão no horário da venda das marmitas, que ocorrem toda segunda-feira às 7h e há um prazo de 10 minutos para que as marmitas de desistentes sejam disputadas.

Aproveitando a mobilização dos funcionários, os estudantes decidiram pelo piquete no dia 18 de maio. O movimento contou com três comissões oficiais: a comissão de ética, responsável por conversar com os demais trabalhadores e estudantes; a comissão de segurança, que tinha o dever de avisar os membros do piquete em caso de perigo e evitar a entrada por outras áreas e a comissão da alimentação, que deveria garantir que todos os manifestantes estivessem bem alimentados.

O ato se encerrou às 22h do mesmo dia. Sob alegação de que os trabalhadores terceirizados não poderiam ser penalizados, a comissão de ética deliberou de forma pontual que alguns pudessem furar o piquete. Um óbvio contrassenso em relação à prática de piquetes, haja vista que a mesma pode levar qualquer trabalhador a sofrer retaliações e é entre os terceirizados que o convencimento para a luta deve se fazer mais forte.

Diante do impasse, na troca de turno de um desses trabalhadores, o movimento se rompeu. Grupos de estudantes que não aceitam a centralidade nas decisões romperam com as deliberações e votações que aconteceram o dia inteiro e a discussão entre manifestantes e um trabalhador resultou na chamada da polícia e no fim da manifestação.

Como tem ocorrido há muito tempo, o movimento estudantil se vê dividido entre, de um lado, as tendências anarquistas que rejeitam todo tipo de centralidade e priorizam apenas ação direta descolada da realidade das forças envolvidas. De outro lado está o excesso de burocratismo de setores ligados a partidos de esquerda que controlam Centros e Diretórios acadêmicos que criam inúmeras barreiras, aparentemente democráticas (formação de comissões, por exemplo), para controlar o movimento e impedir que a ação direta possa fortalecer a luta e colocar em risco seus interesses no controle dos aparelhos.

A UNESP de Marilia tem um passado de gloriosas lutas do movimento estudantil. É preciso superar o espontaneísmo, que é uma característica positiva da juventude, mas prejudicial à luta organizada que se pretende estratégica, pois desagrega e separa o movimento dos estudantes das lutas da classe trabalhadora. Também é fundamental superar as práticas burocráticas de grupos que atuam para manter o controle das organizações, apenas para instrumentalizarem seus partidos.

 


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