O mundo encontra-se em processo acelerado de desdolarização. O dólar estadunidense, tido como moeda forte da economia mundial, utilizada internacionalmente, desde o pós-guerra, como referência nas transações do comércio de petróleo (PetroDóllar), principal fonte de energia do mundo; de commodities; comprado para reservas cambiais e acordos comerciais bilaterais vem sendo substituído. Hoje, grande parte da economia mundial ainda está centralizada no dólar, porém, tal hegemonia tende a ser superada e isso está diretamente ligado a própria desagregação da economia imperialista norte americana.
A moeda emitida pelos americanos é dominante desde a década de 1950. Nos anos 60, o dólar deixar de ser lastreado pelo ouro e este fato é apontado como uma de suas primeiras grandes fragilidades. Nos anos 70 a ruptura do regime de câmbio fixo derivado do Acordo de Bretton Woods, assinado no pós-guerra, pode ter restringido sua força global.
Vários outros fatores podem ser apontados para este processo em curso, inclusive, anteriores ao atual rearranjo da economia mundial em vários pólos econômicos. Na década de 1980, por exemplo, houve a internacionalização do marco alemão e do iene japonês, seguidas, no final dos anos 90, pelo lançamento do euro.
Hoje, estamos assistindo à conformação de uma economia multipolar e, ao que tudo indica, o uso do dólar será substituído por outras moedas nas transações financeiras comerciais. A Arábia Saudita, por exemplo, estuda vender petróleo com pagamento em euro, yuan e outras moedas. O Iraque, por sua vez, já começou a fazer negócios com a China usando o yuan, enquanto os Emirados Árabes Unidos cogitam a rúpia indiana para comercializar produtos com a Índia. As percepções da tendência de declínio do dólar foram mais contundentes após a crise financeira que o mundo atravessou em 2008, conhecida como crise dos “subprimes” (empréstimos hipotecários de alto risco). Tal situação foi aprofundada, posteriormente, pela ascensão de forma geral de países emergentes que se juntaram em torno do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Com a crescente economia chinesa, em aliança com a Rússia, se alastrando pela Ásia, Europa, África e América do Sul, torna-se palpável a realidade do aceleramento do processo da desdolarização da economia mundial. Mais que nunca, é possível que o dólar possa cair por terra como moeda de referência mundial na moderna economia globalizada.
Entre outras coisas, o fim do uso do dólar como arma de opressão imperialista contra os povos do chamado Sul Global (todos os países cuja história de colonialismo e ou neocolonialismo gera grande desigualdade social) pode estar mais próximo do que se imagina. A força dessa moeda hegemônica é ancorada no poder bélico e financeiro dos Estados Unidos, que elevou o país como principal potência imperialista no pós-guerra, com uma feroz capacidade de impor sanções, embargos econômicos e destruição à países nas mais diversas regiões do mundo.
Sendo assim, pode-se dizer que o fortalecimento e ampliação do BRICS será importante nesse processo de superação da ordem unipolar controlada pelos EUA. Há, de fato, um movimento de ampliação no uso de moedas emergentes em pagamentos internacionais e isso pode ganhar impulso com a inclusão de mais países no BRICS e a ampliação do escopo das parcerias entre os poderes emergentes e os demais países do Sul Global. Os parceiros dos BRICS negociam deixarem o dólar de lado e elegerem uma outra moeda como referência.
Porém, o fator decisivo de aceleramento da desdolarização refere-se à luta que se trava no território ucraniano entre os países da OTAN contra a Rússia e, por tabela, a China. Perder a guerra pode significar, para os EUA e a OTAN uma pá de cal sobre a configuração do dólar como existe hoje.
A geopolítica do dólar é intrínseca à divisão do mundo em polos econômicos múltiplos. Para o conjunto da classe trabalhadora mundial, o mais significativo é a desagregação do país central do imperialismo, os donos da emissão do dólar, os EUA.