Durante o período das eleições, o atual presidente, Lula, deixou claro que uma das suas prioridades era a diminuição da taxa de juros estipulada pelo Banco Central. Porém, encontra um problema com a independência do Banco Central e seu atual presidente, o bolsonarista Campos Neto, liderando arduamente uma oposição ao governo cuja política econômica depende do papel dessa instituição.
O Banco Central (Bacen) pode ser considerado o banco dos bancos, porque é o principal agente financeiro do governo. Ele fiscaliza outros bancos e os ajuda em caso de crise, mesmo isso não estando em sua lista de obrigações. O Bacen também cuida da reserva de ouro e moeda estrangeira no país e, por último, é dele a função de definir a taxa básica de juros e controlar a inflação do país, o que reflete na conta final dos nossos cartões de crédito. Isso faz com que exista um grande interesse da elite financeira em controlar o Bacen.
Criado em 1964, durante a ditadura militar, para substituir o Banco do Brasil (BB) na função não oficial de fornecer empréstimo na última instância para controlar a economia, no início ele dividia suas atividades com o BB que ainda abrigava os bancos comerciais estaduais, controlados por governantes, o que não foi algo benéfico para a população já que a base dessa troca era a impressão de novas cédulas de dinheiro de modo livre. Isso resultou em uma inflação de 64,5% ao ano até 1984. Com a indexação econômica, adotada pelos militares, os valores eram convertidos automaticamente com o ajuste da inflação e, de 1984 até 1994 ocorre a hiperinflação. Assim, é possível concluir que, durante toda sua existência, o principal banco do país não possui interesse no pleno desenvolvimento econômico que favoreça os trabalhadores e age de acordo com os interesses da elite rentista. Muitos dos seus presidentes são homens da alta sociedade, como o próprio Campos Neto que enriqueceu fazendo parte da alta hierarquia do Banco Santander, enquanto seu antecessor Ilan Goldfajn, indicado no governo Temer, era sócio do Itaú.
A autonomia do BC foi aprovada em 2020, no governo Bolsonaro e é uma reivindicação da burguesia, mesmo dos setores que hoje reclamam dos juros altos. Com ela se estabeleceu mandatos de 4 anos para presidente e diretores da autarquia, em ciclos que não coincidem com a gestão do presidente da República. Ou seja, o governo eleito de Lula tem dificuldades para controlar a política econômica imposta pelo bolsonarismo.
A independência de um órgão tão importante na economia do país que, historicamente, não demonstrou compromisso com a população, sobretudo com os mais desfavorecidos, somada à liderança de um homem da elite, que há meses trava uma disputa política e sabotadora contra o atual governo, faz Campos Neto manter sua decisão de não reduzir os juros. Cabe aos trabalhadores se organizarem em forma de protesto a essa imposição burguesa de Campos Neto que não respeita os votos da maioria da população e favorece apenas especuladores, atrapalhando o desenvolvimento das forças produtivas. Essa ideia vem sendo impulsionada pela CUT, que lidera as mobilizações contra os altos juros.
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