Uma força inovadora move o mundo da economia globalizada, numa perspectiva diferenciada do universo unipolar, centralizador, dolarizado e financista do imperialismo ianque. Uma ordem mundial baseada no medo, em perversidades e nas desigualdades sociais é o contexto da atual sociedade do capital monopolista que, ao elevar suas contradições, se encontra a passos largos para uma desagregação.
Os sinais desse processo podem ser vistos pela desdolarização em curso, necessidade de ampliar sansões econômicas aos pretensos dominados, revoluções coloridas, golpes, conflitos e ameaça de guerra nuclear mundial. Em contrapartida, os países emergentes e pobres buscam uma saída conjunta pra se livrarem da corda no pescoço, do estrangulamento dos direitos de sua população e dos saques de suas riquezas naturais. Eis o contexto histórico que forja a existência e a consolidação do BRICS, cujo banco, de caráter desenvolvimentista, busca fazer frente ao Banco Mundial e, principalmente, ao FMI (Fundo Mundial Internacional). Como não podia deixar de ser, tal fundo financeiro sempre esteve sob controle dos países mais ricos, os mais desenvolvidos e industrializados do mundo, que se agrupam em torno do G7 (EUA, Canadá, Alemanha, França, Itália, Japão e Reino Unido), como resposta à grave instabilidade econômica e política do pós segunda guerra mundial. Ao contrário do que se propagava, só os países ricos se desenvolveram, em favor da exploração e tutela dos países conhecidos por Sul Global. O FMI levou muitos países à falência, mantendo-os totalmente subordinados aos ditames dos países imperialistas.
Por outro lado, a economia globalizada vai se movendo em outras direções, em busca da superação das contradições, frente ao esgotamento do sistema financeiro mundial. A partir de um estudo realizado em 2001 pelo Inglês Jim O’Niel, economista-chefe da Goldman Sachs, intitulado “Building Better Global Economic Brics”, o BRICS foi idealizado e formalizado tendo como eixo principal o agrupamento de países emergentes de continentes distintos, com características socioeconômicas em comum, tais como, grande extensão territorial, uma grande população absoluta e um considerado crescimento econômico. São países de continentes diferentes que buscam um desenvolvimento compartilhado. A formação original do bloco ocorreu entre o Brasil (América do Sul), Rússia (Europa), Índia e China (Ásia). Em 2011, dez anos depois, a África do Sul (África) passa a integrar o grupo, que passou a ser chamado de BRICS.
Ao que tudo indica, o chamado Novo Banco do Desenvolvimento (NBD) do BRICS se tornará aglutinador dos países não imperialistas e colonizados, inclusive como possível extensão da consolidação do bloco econômico euroasiático, impulsionadora de uma economia multipolar. Hoje já se debate o BRICS plus, pois muitos países considerados parte do Sul Global têm encaminhado pedido para integrar o bloco.
O BRICS tende a se consolidar ao furar a bolha financeira monopolista e tal fato acompanha a tendência atual de formação de blocos econômicos multipolares em um momento de muita conturbação política, econômica e social no mundo (leia-se: a luta de vida ou morte que ocorre em território ucraniano entre os países imperialistas formadores da Organização do Atlântico Norte, OTAN, e a Rússia, em parceria com a China, que ameaça a quebra do monopólio unipolar).
Há de se destacar a atuação do Brasil, em particular dos governos do Partido dos Trabalhadores, na formação primeira do BRICS, na sua expansão e consolidação no momento atual. Não é à toa que a ex-presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, assume, no terceiro mandato de Lula, a presidência do Novo Banco do Desenvolvimento. Isso está diretamente ligado a posição de liderança de Lula frente ao Mercosul. Dilma foi empossada em abril do corrente ano e seu mandato vai até 2025. A cerimônia ocorreu em Xangai, cidade sede do novo Banco. Em seu discurso de posse, ela falou da importância do BRICS, de alcance global, sem a participação de países desenvolvidos em sua fase inicial e livres das imposições dos financistas imperialistas contra os países emergentes.
O que tem chamado mais a atenção do mundo em relação ao BRICS é a possibilidade de os países membros, e outros emergentes, receberem financiamentos de seus projetos em moedas locais.
Cabe à classe trabalhadora mundial, principalmente a dos países emergentes e empobrecidos, acompanharem o passo a passo dessa tendência que se desenha, de várias formas e matizes, favorável a posição dos pequenos contra os grandes. No entanto, essa tendência não depende apenas de acordos políticos. Mobilizações de massas, que parem a produção e elevem a consciência de classe da população, podem aprofundar a crise dos países imperialistas até sua ruina, rumo a uma sociedade sem opressão de classes.