Foi executada nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro, mais uma testemunha do assassinato de Marielle Franco. O ex-vereador Zico Bacana, que em 2018 foi um dos convocados a depor na condição de testemunha sobre o assassinato da vereadora do PSOL, homenageou durante seu mandato na Câmara, de 2017 a 2020, PMs do batalhão do Irajá denunciado por Marielle na CPI das milícias em 2008. Ex-policial militar, Bacana e mais duas pessoas morreram vítimas de um atentado à bala ocorrido no centro do Rio.
O cenário de um dos crimes mais emblemáticos da história do Brasil, com repercussão mundial, foi novamente um dos assuntos que mais esteve sob os holofotes nas últimas semanas. Marielle Franco, mulher negra, filha, irmã, esposa e criada na favela da Maré, no Rio de Janeiro, lutava pelos direitos humanos, em especial das mulheres, e era crítica à violência policial contra as populações periféricas. Foi eleita vereadora da Câmara do Rio de Janeiro com mais 46 mil votos em sua primeira disputa eleitoral, em 2016.
No dia 14 de março de 2018, ano em que Jair Bolsonaro se candidatou à presidência do Brasil, Marielle Franco, com pouco mais de um ano de mandato, foi brutalmente executada, junto a seu motorista, Anderson Gomes, no Rio de Janeiro. Representante do povo que a elegeu, sua morte foi entendida como um ataque à democracia.
Cinco anos se passaram desde o atentado e a busca por justiça continua. Ainda não há explicações esclarecedoras sobre quem mandou matar Marielle e qual foi o motivo por trás do assassinato. Com a execução de Zico Bacana, já são seis investigados pela polícia, relacionados ao caso, assassinados. Um deles, o sargento da Polícia Militar Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, morto em 2021, era o principal envolvido no assassinato por intermediar ações entre o mandante e o executor do crime.
Recentemente, revelações feitas pelo ex-PM Élcio de Queiroz mostraram que foi Macalé quem apresentou a Ronnie Lessa o “trabalho” de executar Marielle. Lessa atualmente está preso por comércio ilegal de armas e por destruição de provas no caso Marielle. Em delação premiada, com a Polícia Federal e o MPRJ, Élcio confessou que dirigiu o carro usado no ataque e que Lessa fez os disparos com uma submetralhadora. No entanto, a colaboração do réu e o relatório sigiloso da apuração da Polícia Federal não fazem menção à munição usada no duplo homicídio, comprada pela própria corporação. Há um interrogatório aberto pela PF para apurar o desvio dessa munição. Questionada sobre o resultado dessa investigação, a PF informou que o conteúdo está sob sigilo.
De acordo com a primeira fase da investigação, concluída em março de 2019, a perícia técnica da Polícia Civil do Rio revelou que oito projéteis encontrados nos corpos das vítimas e no carro em que estavam eram do lote UZZ 18, produzidos pela marca brasileira CBC, e um deles, importado, da marca Indumil. A questão está no lote UZZ 18, vendido exclusivamente para a Polícia Federal, em 2006.
Ainda há esperança de que a justiça prevaleça e todos os envolvidos nesse crime cruel sejam devidamente responsabilizados. O caso Marielle tornou-se símbolo da violência política no Rio de Janeiro, em que as instituições estão entrelaçadas com o crime organizado e controladas por milícias. Com inquestionável envolvimento da família Bolsonaro no crime, Marielle também se tornou símbolo da luta contra a política genocida, misógina e racista que governou o Brasil nos últimos anos.
A sociedade aguarda ansiosamente por respostas definitivas sobre os mandantes e sobre a motivação desse ato de desrespeito à democracia.
Foto: Agência EFE