Uma onda conservadora contra minorias cresce nos Estados Unidos. Esse ano, já foram mais de 650 projetos propostos em todo país contra os direitos das pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e transexuais, segundo o Moviment Advancement Project (MAP). A maioria desses são relacionados ao cerceamento da comunidade no ambiente escolar. Foram apresentados 160 projetos dessa natureza nos primeiros dois meses do ano.
Em fevereiro, foi aprovada a lei “anti drag" no estado do Tennessee, que restringe a participação de "drag queens" em espaço público ou locais onde haja presença de crianças e adolescentes. A lei foi barrada temporariamente devido a pressão social da comunidade, por ação de um juiz federal.
Também neste ano, o governador da Flórida, o republicano Ron deSantis, assinou o projeto "Let Kids Be Kids" ("deixem as crianças serem crianças"), restringindo procedimentos de redesignação sexual, além da proibição do uso de pronomes nos banheiros públicos e escolas. Hoje na Flórida, a escola não pode usar o pronome escolhido pela pessoa, se for contrário ao seu sexo biológico. Também é proibido ensinar sobre orientação sexual e identidade de gênero até a 8° série, pela lei Dont Say Gay ("não diga gay"). A participação de estudantes trans em transporte juvenil não era proibida até 2019 e atualmente há essa proibição em dezenove estados do país, além de outras restrições semelhantes em outros vinte e sete estados. O aumento de leis e projetos contra a população LGBTQIAPN+ vem crescendo desde a eleição do governo de Trump em 2016, com o argumento da extrema direita de deter a inexistente "ideologia de gênero".
Na Itália, governada pela extrema direita, a comunidade LGBTQIAPN+ também está s ob ataque. Recentemente houve o cancelamento da certidão de crianças que possuem duas mães registradas. Desde maio deste ano, 33 casais de mulheres lésbicas tiveram que cancelar as certidões de nascimento de seus filhos e filhas. Além disso, casais homossexuais são bloqueados pelo governo do acesso ao programa de adoção.
Essas medidas retrógradas, que vem avançando pelo mundo, têm o objetivo de "expurgar" e tirar os direitos democráticos da comunidade, com base no fortalecimento dos ideais cristãos e conservadores. O astro pop inglês, Elton John, alerta a população sobre esse retrocesso, sobretudo na Flórida. O deputado democrata Ritchie Torres, membro abertamente gay na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos desde 2021, afirma que "a maioria do tribunal invoca a liberdade religiosa para licenciar a discriminação contra as pessoas LGBTQs".
Desde de A Revolta de Stonewall, ocorrida em Nova Iorque, em 1969, a população LGBTQIAPN+ vem conquistando direitos e aceitação na sociedade, com grandes vitórias. Mas as lutas continuam intensas. Com o avanço das conquistas e do Orgulho, também vem o avanço da onda conservadora e religiosa, que quer controlar essa população. Com o sistema capitalista em crise, a burguesia se desfaz de sua máscara democrática e aumenta a opressão sobre a classe trabalhadora. E é mais fácil oprimir quem já é oprimido, por isso ela joga peso nos preconceitos oriundos das tradições patriarcais.
A extrema direita avança pelo mundo e é necessário combater esse avanço com mais pessoas LGBTQIAPN+ ocupando cargos de poder, com a luta por políticas públicas inclusivas e, principalmente, ocupando as ruas para lutar radicalmente em defesa dos direitos conquistados, para que não sejam proibidos no futuro, como acontece agora.
Foto: SAUL LOEB (AFP)