• Entrar
logo

Trabalho infantil nos Estados Unidos

Recentemente, o aumento da exploração do trabalho infantil nos Estados Unidos ganhou repercussão na mídia mundial, como algo impensável em um país com a economia mais importante do mundo, que propaga seu regime democrático como modelo para o resto do mundo. Em 2022, houve um aumento de 69% de trabalho infantil ilegal se comparado a 2018. Os dados em relação à mão-de-obra infantil não são precisos, estima-se que cerca de 4 mil crianças foram encontradas por fiscais em situação de trabalho irregular em 2022, em sua maioria imigrantes. 

Os Estados Unidos, assim como a maioria dos países, possuem leis federais específicas sobre o trabalho infantil, proibido desde 1938. Entretanto, a flexibilidade legislativa dos estados e a indiferença do governo federal levaram muitos governantes a contornar essas medidas. A lei federal permite o trabalho a partir dos 14 anos, sendo que jovens de 14 e 15 anos podem trabalhar no máximo 3 horas diárias, em serviços leves e nunca depois das 19h, enquanto jovens de 16 e 17 anos estão proibidos de trabalharem em serviços que coloquem suas vidas em risco, como mineração e construção civil. Porém, quatorze estados promulgaram legislações revertendo a regulação do número de horas em que as crianças podem ser empregadas, reduziram as restrições ao trabalho perigoso e legalizaram salários abaixo do mínimo para os jovens.

Praticamente todos os ramos da economia empregam, hoje, mão-de-obra infantil nos Estados Unidos. Há casos de crianças de 14 anos trabalhando em períodos noturnos de 6 horas em lavanderias industriais. Em Iowa, um dos estados pioneiros nesse descaso com jovens e crianças, foi permitido que adolescentes trabalhem na produção de explosivos e fogos de artifícios. 

A crise política e social pela qual passa o país, com o avanço da extrema direita, facilita a disseminação de discursos moralistas e ideológicos que justificam a exploração do trabalho infantil. Alguns legisladores afirmam que o trabalho pode afastar as crianças da má influência de computadores, videogames, etc.. Outro argumento hipócrita diz respeito à liberdade dos pais de definirem se a criança deve ou não trabalhar. Esta última alegação caiu por terra quando ampliaram-se os esforços para aprovação de leis que permitam o trabalho de crianças de quatorze anos, sem a permissão formal dos pais. "Think tanks" de direita, como o “Cato Institute” e a “Americans for Prosperity, dos irmãos Koch, publicaram estudos que alegam que as leis que proibem o trabalho infantil prejudicam o futuro das crianças pobres, em especial as negras.

A legislação sobre o tema também vem sendo flexibilizada em estados de tradição democrata, como Nova Jersey. Ainda há o agravante de que, mesmo em estados com leis rígidas sobre trabalho infantil, muitos empregadores preferem correr o risco de pagar multas do que abrir mão da economia que fazem ao empregar crianças. E, em se tratando de ilegalidades, são as crianças imigrantes as mais exploradas, sem nenhum critério de idade.

Uma suposta crise de mão-de-obra tentou justificar, aos olhos de uma sociedade que se enxerga como próspera, a volta do trabalho infantil, tão arduamente combatido nas lutas da classe trabalhadora dos séculos passados. Os empregadores encontraram parte da solução no aumento da imigração de crianças e adolescentes desacompanhados no país. Após um período encarcerados, eles são encaminhados à famílias muitas vezes disfuncionais que não lhes garantem nenhum tipo de segurança. Por conta de questões financeiras,e beirando a miséria, esse jovens são presas fáceis para o trabalho mal remunerado e sem proteção legal 

A verdade é que o avanço da exploração do trabalho infantil é mais um dos sintomas da grande crise social pela qual passa o grande império da atualidade. Enquanto aumentam os gastos militares que beneficiam grandes corporações, o Estado norte-americano não consegue garantir o bem-estar social de sua população. É assim que a burguesia resolve suas crises.

Foto:Alyssa Schukar / The New York Times


Topo