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Tarcísio ataca a cultura

Em abril de 2024, o Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, de Tatuí, interior de São Paulo, completará 70 anos de história. Contudo, no último dia 27 de outubro, há poucos meses da data festiva, os alunos do conservatório foram surpreendidos por um comunicado, via e-mail, informando sobre o fechamento dos alojamentos, previsto para ocorrer no dia 31 de janeiro do próximo ano. A medida pode prejudicar mais de 200 estudantes que dependem dos alojamentos.

O desmonte do Conservatório é mais uma das iniciativas do governo Tarcísio de Freiras (Republicanos), junto à Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Em um comunicado oficial, a atual secretária da pasta, Marília Martín, e o atual prefeito de Tatuí, Miguel Lopes Cardoso Júnior (MDB), apoiaram a medida de Tarcísio, que pretende substituir os alojamentos por “benefícios”, no valor de R$450,00, para custear uma moradia na cidade. Na mesma nota foi proposta a criação de repúblicas estudantis. Na prática, a medida irá inviabilizar a permanência daqueles que não têm condições financeiras, pois o valor proposto é incompatível com os valores de moradia e outras despesas que o alojamento cobria como água e luz. Trata-se da tentativa de desmontar a maior escola gratuita de ensaio musical da América Latina, responsável pela formação de instrumentistas, lutiês e atores de prestígio internacional, cujas instalações são consideradas as melhores do Cone Sul, com 56 cursos ofertados pelo Conservatório.

Como não poderia ser diferente, os cortes de gastos com os alojamentos não foram bem aceitos pelos estudantes, professores, comunidade e alguns vereadores, que não se deixaram enganar pela proposta de substituição do alojamento por bolsas, com valores incompatíveis com a realidade. Já a ausência de uma justificativa plausível para o repentino fechamento do alojamento permitiu aos estudantes entenderem que a política adotada por Tarcísio segue a mesma lógica outras áreas dos serviços públicos: “economizar” nos investimentos à população.

A insatisfação da comunidade resultou em protestos. Os estudantes alegam a impossibilidade de continuar os estudos nessas condições. Atualmente, o alojamento conta com quartos individuais, com isolamento acústico, pois, muitas vezes, os estudantes praticam em suas acomodações. Todos têm acesso, de forma gratuita, à água, luz, sala de estudos, alimentos não perecíveis, além de mobília como fogão, geladeira e máquina de lavar. Além dos moradores fixos, existem os moradores diaristas que podem ser alunos, professores e convidados que permanecem alguns dias e serão também serão prejudicados. 

Pelo prestígio da Instituição, os protestos receberam apoio popular, inclusive pela forma sorrateira com que o governo de São Paulo está gerindo o fechamento, já que os alunos foram informados por e-mail de algo que ocorrerá dentro de três meses. Há anos, a população de Tatuí, estudantes egressos e apoiadores do Conservatório empreendem uma luta contra o processo gradativo de privatização, iniciado nos governos do PSDB, que transfere a gestão do estado para Organizações Sociais (OS) e, com isso, vai aos poucos sucateando para, depois, importa a entrega ou fechamentos das instituições. Durante o governo de João Dória (PSDB-SP), a Sustenidos Organização Social de Cultura assumiu a administração do Conservatório, ameaçando extinguir 496 vagas, em 2021, o que equivaleria a uma redução de 22,6%. O processo de privatização das gestões de órgãos públicos condiciona os investimentos e a existência de cursos à viabilidade financeira de um estado que só fala em ajuste fiscal e ajuste orçamentário.

O governo ultraliberal de Tarcísio, cujos planos passam pelo desmonte e precarização dos serviços públicos, tende a intensificar os ataques ao Conservatório, um importante investimento público na cultura e educação, uma referência na formação de artistas.
 


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